HOME > Brasil Sustentável

Izabella Teixeira denuncia cinismo climático global e propõe nova governança sobre recursos naturais

Ex-ministra do Meio Ambiente defende protagonismo do Sul Global na COP 30 e critica transição energética limitada ao discurso das potências

Izabella Teixeira (Foto: Brasil 247)
Redação Brasil 247 avatar
Conteúdo postado por:

247 – A ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira fez duras críticas à condução da agenda climática mundial durante o evento “A transição energética e a sustentabilidade do futuro”, realizado pelo BNDES em 9 de julho, no Rio de Janeiro, com apoio do Brasil 247 e do portal chinês Guancha. Em uma fala provocativa e repleta de referências à geopolítica internacional, ela apontou a lentidão na transição energética e defendeu que o Brasil assuma papel de liderança na construção de uma nova governança sobre recursos naturais.

“Da COP 29 para a COP 30 o mundo mudou. E da Rio 92 para a COP 30, mudamos de século”, afirmou. Para Izabella, é urgente “parar com essa reedição do passado” e enfrentar os desafios atuais com coragem e criatividade. Em tom bem-humorado, saudou Aloizio Mercadante, presidente do BNDES: “Você é o MAGA do Brasil. ‘Melhore Aloízio de novo’. Estou impressionadíssima.”

Clima, poder e a reorganização mundial

Izabella destacou que as mudanças climáticas estão hoje no centro das disputas globais de poder. “A política climática está andando junto com a política de poder. E essa incerteza, tanto geopolítica quanto científica, estará cada vez mais presente nas soluções que tentarmos construir.”

Segundo ela, a presidência brasileira da COP 30 deve coordenar os interesses internacionais, mas também afirmar a posição do Brasil diante dos desafios para os próximos 10, 20 e 30 anos. “O risco climático está na sala. Não é algo homogêneo. A natureza tem um tempo diferente da política. E estamos trazendo variáveis novas para a mesa de negociação internacional.”

A ilusão da transição energética

Com forte senso crítico, Izabella afirmou que a ideia de transição energética está sendo usada de forma enganosa. “Não vejo transição, vejo adição. Se há 40 anos a matriz energética mundial era 86% dependente de combustíveis fósseis e hoje é 80%, me desculpem, mas há um cinismo climático em achar que estamos avançando.”

Ela ainda criticou a centralização das decisões nas mãos dos ministérios do meio ambiente: “Ou trazemos novos atores para a mesa ou continuaremos no faz de conta. Estamos vivendo a era do ‘desejo de parecer verde’, enquanto o que de fato vale no mundo é o verde do dinheiro.”

O peso da desigualdade

Izabella também fez duras críticas à indiferença das classes médias diante do aumento da fome e da pobreza no Brasil nos governos neoliberais de Temer e Bolsonaro. “Esse país erradicou a fome. A fome voltou. E eu não vi ninguém da classe média gritar. Vocês acham que vou passar a vida falando de carbono enquanto a sociedade ignora o sofrimento ao seu lado?”

Segundo ela, a descarbonização precisa ser tratada com responsabilidade social e visão estratégica. “Leva tempo. E exige diálogo, pacto, investimento e risco. Banco público tem que assumir risco. Não basta alocar dinheiro. É preciso mudar a cultura.”

Um novo pacto global pelo clima

Para a ex-ministra, é fundamental que a COP 30 deixe como herança um espaço político permanente de negociação sobre uso da terra e segurança dos recursos naturais. “Essa discussão não pode continuar nas mãos apenas dos países desenvolvidos. Os países detentores de florestas, biodiversidade e minerais estratégicos precisam ter protagonismo.”

Izabella defendeu que os países do BRICS ampliado e do grupo BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China) assumam uma nova agenda de cooperação, voltada para soluções reais. “Sem o BASIC, não teria havido o Acordo de Paris. O grupo foi decisivo, liderado pelo presidente Lula.”

A nova disputa geopolítica

Para ela, a questão climática já ultrapassou os fóruns tradicionais como a ONU. “As grandes potências estão redesenhando a ordem mundial. Temos que reorganizar o sistema internacional para garantir que a alocação de recursos naturais e minerais estratégicos seja feita de forma justa, com soberania e cooperação.”

E encerrou com um convite carregado de ironia e esperança: “O resto é conversa fiada de quem vive de relatório. Eu prefiro beber uma caipirinha de baixo carbono. E espero vocês no futuro.”

Com sua fala, Izabella Teixeira chamou a atenção para a urgência de uma nova arquitetura política e econômica que respeite a soberania dos países em desenvolvimento e priorize justiça climática. A COP 30, segundo ela, será o momento decisivo para virar essa chave. Assista:

❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Cortes 247

Relacionados

Carregando anúncios...
Carregando anúncios...