Educadores unem canoagem e educação ambiental para engajar nova geração
A canoagem permite trazer para o cotidiano dos jovens os grandes temas da atualidade como ocupação urbana, mudanças climáticas e saneamento básico
Beatriz Bevilaqua, 247 - À beira-mar de Niterói, no Rio de Janeiro, nasce uma proposta de transformação que vai além do esporte. O projeto social Hale Storm, idealizado pelos educadores Rodrigo Fernandez, Gabriel Mattos, utiliza a prática da canoa polinésia como ferramenta de educação ambiental, desenvolvimento físico e fortalecimento de vínculos comunitários entre jovens de 12 a 18 anos, especialmente os que vivem em situação de vulnerabilidade social.
Rodrigo é geógrafo, professor de educação física e educador ambiental. Desde cedo envolvido com esportes de aventura e com o oceano, ele encontrou na canoa polinésia uma forma de unir corpo, território e consciência ecológica. “A canoagem permite trazer para o cotidiano dos jovens os grandes temas da atualidade, como ocupação urbana, mudanças climáticas e saneamento básico. Tudo isso está vivo na experiência da remada”, explica.
Para ele, a educação ambiental precisa ser sensorial e vivencial. “Não basta falar que a Baía de Guanabara está poluída. O jovem precisa estar lá, ver que ainda tem vida naquele lugar, que é possível recuperar. É nesse tipo de experiência que nasce o pertencimento. Só assim ele vai querer defender aquele território.”
Do mar à sala de aula: conhecimento na prática
A metodologia do Hale Storm é interdisciplinar. Rodrigo conta que leva professores de matemática e física para pensar, junto com os de educação física, formas de integrar os conteúdos à prática da canoa. "Falamos de alavanca, força, velocidade, coordenação motora, mas também do clima, das fases da lua, da maré, da fauna costeira. É a natureza como sala de aula.”
Gabriel, também educador físico, teve uma infância parecida com a de Rodrigo, entre praias e projetos sociais ligados ao surf. “Eu sempre senti que um projeto pode mudar uma vida e mudou a minha. Hoje, o que faço é devolver aquilo que recebi”, diz. Segundo ele, a canoagem é como uma bicicleta do mar. “Muitas crianças já não exploram mais a rua. O mar, então, é um território completamente desconhecido. Quando entram na canoa, elas redescobrem o mundo.”
A canoa, como modalidade, exige disciplina, cooperação e atenção plena. “São mais de 40 quilos por jovem para colocar a canoa na água. Eles precisam se coordenar desde o primeiro dia, montar o equipamento com segurança, observar o clima. Tudo isso exige que estejam ali, no presente. A canoa não permite distração. E esse foco é algo que muitos deles não experimentam em outras esferas da vida”, explica Rodrigo.
A convivência também promove laços. “Eles chegam de realidades muito diferentes: um vem de ônibus, outro de carro, um mora perto da praia, outro nunca pisou na areia. E ali, na canoa, eles viram um só corpo. Aprendem a remar juntos, a confiar uns nos outros. Criam vínculos reais, duradouros”, complementa Gabriel.
Educação ambiental que nasce da experiência
Além dos treinos, o projeto realiza ações onde os jovens recolhem lixo do mar e das praias e depois o classificam e discutem soluções. “É uma experiência transformadora. Eles passam a olhar aquele território, que muitas vezes é visto como um lugar perdido, com outros olhos. Descobrem que podem cuidar, que têm poder de ação”, afirma Gabriel.
Rodrigo reforça que o foco da educação ambiental não deve ser apenas denunciar. “Ficar repetindo que tudo está poluído afasta. O que aproxima é mostrar o que ainda está vivo e pode ser cuidado. Mostrar soluções.”
Apesar do impacto social, o projeto é hoje 100% voluntário. Os educadores não recebem remuneração, e o financiamento vem, em parte, das mensalidades pagas por algumas famílias que podem contribuir. Esse valor cobre apenas despesas básicas, como compra de equipamentos, coletes e inscrições em campeonatos.
“A gente já deixou de participar de etapas classificatórias do campeonato brasileiro e até de seletivas para o mundial por falta de verba para transporte, alimentação e hospedagem. Os custos logísticos nos impedem de crescer mais”, lamenta Rodrigo. “Mas seguimos firmes, com os braços que temos. E seguimos em busca de parceiros que queiram somar.”
Empresas, pessoas físicas e instituições públicas podem colaborar. Seja com apoio financeiro, logístico ou voluntariado, toda ajuda é bem-vinda. “Esse é um projeto de impacto real. E pode ser ainda maior”, diz Gabriel.
O Hale Storm está aberto a novos alunos e também a apoiadores. Interessados podem encontrar mais informações no Instagram @halestorm.br. O projeto atende jovens entre 12 e 18 anos, com ou sem experiência prévia, priorizando a inclusão e o respeito às diferentes trajetórias.
“Queremos formar jovens conscientes, conectados com o mundo e com o meio ambiente. A canoa é só o começo. O que estamos construindo é uma geração mais presente, mais ativa e mais humana”, enfatiza, Rodrigo Fernandez.
Assista à entrevista na íntegra:
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