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BNDES premia arquitetos negros que propõem revitalizar a Pequena África com foco em memória e cultura

Projetos selecionados valorizam herança afro-brasileira na zona portuária do Rio e serão analisados para integrar o Distrito Cultural Pequena África

Grafite no território da Pequena África, na zona portuária do Rio de Janeiro (Foto: Reprodução/André Matheus/BNDES)
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247 - Em um esforço para aliar valorização cultural e requalificação urbana, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou os vencedores do Concurso BNDES Pequena África, que busca redesenhar a zona portuária do Rio de Janeiro com base em propostas de arquitetos e urbanistas negros. Segundo a Agência BNDES de Notícias, foram selecionados três projetos inovadores, que agora poderão integrar o futuro Distrito Cultural Pequena África.

Lançado em março, o concurso recebeu propostas que combinam soluções arquitetônicas, mobilidade urbana e ações culturais com foco no patrimônio afro-brasileiro. As equipes selecionadas se destacaram por seu compromisso com a preservação da memória, estímulo à economia criativa e ampliação do acesso à cultura, sempre com um olhar atento à história do território e suas potências simbólicas.

O projeto vencedor, intitulado Pequena África: Memória Continental, é liderado pela arquiteta americana Sara Zewde, cofundadora do Studio Zewde e professora da Harvard Graduate School of Design. A proposta foi premiada com R$ 78 mil e reconhecida pelo júri por estabelecer conexões simbólicas entre a diáspora africana e os elementos urbanísticos, religiosos e naturais da região. “A arquitetura tem o papel de valorizar e amplificar essa riqueza cultural presente nos arredores do Cais do Valongo", afirmou Zewde. Ela explicou que seu projeto utiliza a água como elemento de reconexão entre o cais e o mar, além de um padrão de pavimentação em tranças e vegetação de origem africana.

Em segundo lugar ficou o projeto Pequena África: Território Akpalô, desenvolvido pelos arquitetos Carlos Henrique Magalhães de Lima e Júlia Huff Theodoro, de Brasília. A proposta foi premiada com R$ 39 mil e sugere intervenções distribuídas pela região, baseadas em referências culturais e históricas locais, com foco na integração ao tecido urbano.

O terceiro lugar, com prêmio de R$ 13 mil, foi concedido ao projeto Sankofa e a Trama da Pequena África, do arquiteto Clovis em parceria com o escritório Patrícia Akinaga Arquitetura Paisagística, Desenho Urbano e Planejamento. A proposta se concentra na valorização dos percursos culturais da região, em especial o entorno do Cais do Valongo, Patrimônio Mundial da Humanidade reconhecido pela Unesco.

Além dos premiados, receberam menções honrosas os projetos dos arquitetos Bianca Naylor Rezende e Matheus Ribeiro Cunha, e todos os finalistas foram reconhecidos com certificados emitidos pelo BNDES. Ao todo, foram concedidos R$ 130 mil em premiações.

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou a relevância social e simbólica da iniciativa: “Este concurso, guiado pela perspectiva de arquitetos e urbanistas negros, propõe repensar o território valorizando a identidade local e construindo um futuro mais inclusivo. O fortalecimento da Pequena África faz parte de uma estratégia de desenvolvimento urbano e cultural que reconhece a importância histórica e simbólica dessa região na formação do Rio de Janeiro e do Brasil”.

A região da Pequena África, situada na zona portuária do Rio, concentra locais de grande relevância histórica e cultural, como o Cais do Valongo, a Pedra do Sal, o Jardim Suspenso do Valongo, o Museu da História e Cultura Afro-Brasileira, o Cemitério dos Pretos Novos e a Casa da Tia Ciata. Com base nesse patrimônio, o concurso integra um esforço mais amplo para a criação do Distrito Cultural Pequena África, que vem sendo estruturado pelo Consórcio Valongo Patrimônio Vivo, liderado pelo escritório Jaime Lerner Arquitetos Associados.

Segundo Valeria Bechara, representante do consórcio, a iniciativa vai além do urbanismo: “É um passo essencial para fortalecer a Pequena África como um espaço que une passado, presente e futuro da cultura afro-brasileira. Cada proposta tem o potencial de transformar a região em um ‘museu de território’, onde a memória histórica se integra à vitalidade do espaço urbano”.

O assessor da presidência do BNDES e coordenador da Iniciativa Valongo, Marcos Motta, destacou a consistência técnica dos projetos: “Os projetos premiados apresentam densidade no conhecimento do território e nas propostas de estruturação da área como um todo, com soluções que podem ser replicadas por toda extensão do distrito cultural da Pequena África”.

A comissão julgadora foi formada por cinco especialistas indicados por entidades parceiras: Humberto Kzure (IAB-RJ), José Antonio Mendes (CAU-RJ), Sinara Rúbia (Comitê Gestor do Cais do Valongo), Letícia von Krüger (IPHAN-RJ) e Jaqueline Matta (Prefeitura do Rio). Das 13 propostas recebidas, as três mais bem avaliadas serão agora examinadas pelo consórcio técnico e poderão ser incorporadas ao plano de estruturação do distrito cultural.

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