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Camilo Irineu Quartarollo

Autor de nove livros, químico, professor de química, com formação parcial em teologia e filosofia.

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Uma confusão de Babel

O prefeito não é protagonista, mas um expectador da última fila

Representação da Torre de Babel (Foto: Gerada por IA/DALL-E)

As povoações começaram à beira de rios, em cavernas, cabanas ou, se no deserto, em tendas nômades em busca de oásis. Água é fonte de vida, rejuvenescimento ao andarilho cansado. Os animais ficam ou retornam à beira das águas. A vida animal se originou num mar primitivo de moléculas orgânicas. 

Embora a realidade chã, escalam no tempo as altas edificações, cidadelas, pirâmides, a ostentação do poder. O culto místico da ascensão e salvação pelos grandes feitos e méritos, os quais apontam para a transcendência ao tempo, desconsiderando os ciclos naturais de vida. A apelação sobrenatural, a deificação pelos escritos antigos, dos feitos imortais, das narrativas, súplicas em hieróglifos ou coleção de feitiços, orações, hinos e fórmulas mágicas compilados nos livros dos mortos egípcio. Os deuses têm pés de barro como Nabucodonosor, rei da Babilônia, em cuja construção da Torre de Babel o projeto falhou pela confusão entre os construtores.

Atualmente, as orlas de rios, mar e mangues começaram a ser predados por construções grandiosas, de um futuro duvidoso e confusões. Incluam-se as orlas marítimas de Santos, Balneário Camboriú e Praia Grande. Santos é conhecida pelos prédios tortos e com rachaduras, devido ao solo impróprio ao peso dessas construções – um problema para as comunidades de lá. Em Perdizes-SP, o ator global Mateus Solano denuncia o que podemos nos tornar com a perda do espaço público – vide a página do Instagram Amoraperdizes. São fotografias de “Projeto para o futuro”. Surgem grupos de pessoas preocupadas com o espaço público pelo país, fazendo coro em defesa do meio ambiente como o salveobosque, na região da Lapa em São Paulo, o bosque dos Salesianos. Geralmente, quando se diz comunidade o prefeito não é protagonista, mas um expectador da última fila. São arquitetos, engenheiros, professores, atores, religiosos, historiadores, gente sensível ao problema, mas não o prefeito.

O Balneário Camboriú, em Santa Catarina, abriga um dos prédios mais altos do Brasil, e nos assombra em Piracicaba... Na terrinha tivemos prefeitos atuantes, que trouxeram a questão de forma democrática e pública, como a consolidação do Engenho central para bem e uso da coletividade. Todavia, agora com a questão Boyes não vemos o atual prefeito, não vemos Plano Diretor à cidade, a prefeitura somente vem para cobrar os impostos. Quem tiver mais dinheiro constrói até à lua, se quiser.

Há o slogan batido aqui também: Projeto para o futuro?! Para mim essa coisa de grandeza vai destruir a mata e a flora, provocar enchentes homéricas, obnubilar o Engenho e a casa do Povoador. 

Hoje tudo é para ser visto, imagens, propaganda. Aliás, para pensar que se vê, pois tudo é exibição em telões, em projetos desenhados com layouts coloridos, onde a vegetação são coqueiros transplantados e solitários ao solo argiloso, dos quais não se provará um coco gelado sequer. Tudo grande para comer com os olhos, como se aqui morassem gigantes, passeando nas avenidas com seus enormes carrões de luxo e quiçá até heliportos. Ara, qual futuro é esse?!

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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