O uso ético da Inteligência Artificial na pesquisa científica: um guia essencial para pesquisadores
A mensagem é clara: as principais revistas científicas do mundo já aceitam o uso da IA, desde que seja feito de forma ética
A ascensão da Inteligência Artificial (IA) tem gerado debates acalorados em diversos campos, e a pesquisa científica não é exceção. Contudo, para acalmar os corações dos pesquisadores e desmistificar o uso da IA, a Dra. Fernanda Bueno Cardoso Scussel (@pesquisanapratica), doutora em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina e com experiência de consumo, lança luz sobre as diretrizes e as melhores práticas para integrar essa tecnologia ao ambiente acadêmico. A boa notícia? As principais revistas científicas do mundo já estão de portas abertas para a IA, desde que a transparência e a ética sejam prioridades.
IA como Ferramenta: O Que Pode e o Que Não Pode
A Dra. Scussel, conhecida por suas postagens esclarecedoras sobre IA, enfatiza que a Inteligência Artificial deve ser vista como uma ferramenta de apoio, não como uma substituta para a autoria humana. Isso significa que, enquanto a IA pode ser uma aliada poderosa na redação e revisão de textos, a responsabilidade final pelo conteúdo e pelas conclusões recai sempre sobre os autores.
“Você pode sim usar IA sem medo, desde que você a utilize como uma ferramenta”, explica a Dra. Scussel. “Isso quer dizer que você pode recorrer às ferramentas de IA para auxiliar na redação e na revisão de texto, desde que você faça uma revisão crítica do material gerado.” No entanto, é crucial deixar claro na carta de apresentação (cover letter) quais ferramentas foram usadas para edição.
Quando o assunto é a análise de dados, a transparência se torna ainda mais vital. “Se você usar a IA para análise de dados, precisa descrever passo a passo como isso foi feito na sua seção de método”, alerta a pesquisadora. Essa explicação deve estar detalhada nos procedimentos metodológicos.
Os Riscos do Uso Inadequado: Por Que a IA Não Pode Ser Autora
Apesar de todas as vantagens, a Dra. Scussel destaca os riscos de um uso irresponsável da IA. As editoras científicas são categóricas: a IA não pode ser autora de publicações científicas. “Se você usou a IA para gerar o seu texto, precisa saber que isso não é recomendado, já que a responsabilidade pelo conteúdo e pelas conclusões é sempre de quem assina o artigo — você e seus coautores”, afirma a Dra. Fernanda.
Apostar no “seja o que Deus quiser” ao deixar o texto nas mãos da IA pode acarretar sérios problemas, como:
- Violação das políticas de transparência e integridade acadêmica, que podem levar à rejeição do artigo ou até à revogação de publicações anteriores.
- Problemas associados a plágio, pois outros pesquisadores podem utilizar os mesmos textos gerados pela IA.
- Complicações legais relacionadas à violação de direitos autorais ou normas de publicação.
“Tenha um registro das ferramentas que você usou em cada etapa da pesquisa. Isso pode, inclusive, te ajudar a organizar melhor o seu processo de pesquisa, viu?”, aconselha a Dra. Scussel.
A Planilha de Registro de Ferramentas de IA: Organização e Transparência na Prática
Para auxiliar os pesquisadores nesse processo é sugerido uma estratégia eficiente: a utilização de uma planilha de registro de ferramentas de IA. Essa ferramenta, fundamental para organizar e documentar o processo de pesquisa, é especialmente útil na elaboração da declaração de uso de IA, exigida por muitas conferências e artigos.
Para que a planilha funcione, recomenda-se:
- Atualização constante: Documentar o uso de qualquer IA sempre que ocorrer.
- Detalhamento: Descrever o objetivo do uso e os resultados gerados pela IA.
- Registro de comandos (prompts): Essencial para futuras pesquisas.
- Percepção sobre a eficácia: Anotar a experiência e as modificações feitas nas respostas.
- Revisão periódica: Manter a planilha atualizada e adaptá-la conforme a necessidade.
- Organização e acessibilidade: Garantir que a planilha seja uma fonte confiável para a declaração de uso da IA.
Como Declarar o Uso da IA: Modelos e Boas Práticas
Observe os modelos de como declarar o uso da IA, adaptáveis às exigências das diferentes revistas:
Se a revista exige uma seção ao final do artigo:
- Declaração sobre o uso de inteligência artificial no processo de pesquisa:
- “Durante a preparação deste trabalho, o(s) autor(es) utilizaram a ferramenta [NOME DA IA] com o objetivo de [O QUE VOCE QUERIA]. Como resultado [ESCREVA O QUE A IA GEROU]. Após a obtenção do resultado gerado pela IA, o conteúdo foi revisado e editado para integração ao manuscrito, conforme as diretrizes de publicação. O(s) autor(es) assumem total responsabilidade pelo conteúdo do artigo publicado.”
Se a revista exige que a declaração componha a carta de apresentação (cover letter):
- “Este trabalho utilizou ferramentas de inteligência artificial nas seguintes etapas do processo de pesquisa:
- [Escreva o nome da etapa]
- [Escreva o nome da ferramenta usada]
- [Descreva brevemente como a ferramenta foi usada]
- [Descreva brevemente os resultados gerados pela IA]
- [Descreva brevemente como esses resultados foram usados]
- Embora a IA tenha contribuído para [EXPLICAR COMO A IA AJUDOU], os autores permanecem responsáveis pela precisão e pela integridade do conteúdo apresentado. Todo o material gerado foi revisado e ajustado pelos autores para garantir a conformidade com as diretrizes da [NOME DA REVISTA].”
Aqui exemplificamos com um caso prático de edição de texto: “Na etapa de edição de texto, recorremos ao ChatGPT para nos auxiliar na revisão do texto. Usamos comandos seguros, que solicitavam apenas a revisão de gramática, ortografia e pontuação, solicitando que nenhuma informação fosse acrescentada ao texto original. Com isso, a ferramenta gerou textos mais coerentes e estruturados, que foram incorporados ao manuscrito após uma minuciosa revisão da resposta obtida por meio da IA.”
Recomendações Finais para uma Pesquisa Responsável
Para finalizar, ressalta-se a importância de se familiarizar com as diretrizes específicas de cada revista, adaptar os modelos de declaração, e considerar a possibilidade de enviar a planilha de registro de ferramentas de IA como material suplementar. “Manter seus dados organizados não apenas facilita essa disponibilização, mas também ajuda a confirmar a existência dos dados e a confiabilidade dos resultados e análises apresentados no seu trabalho”, conclui.
A mensagem é clara: as principais revistas científicas do mundo já aceitam o uso da IA, desde que seja feito de forma ética, consciente e bem documentada. Ao seguir essas orientações, os pesquisadores não apenas garantem a integridade de seus trabalhos, mas também contribuem para o avanço responsável da ciência.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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