Sara York avatar

Sara York

Sara Wagner York ou Sara Wagner Pimenta Gonçalves Júnior é bacharel em Jornalismo, licenciada em Letras Inglês, Pedagogia e Letras vernáculas. Especialista em educação, gênero e sexualidade, primeiro trabalho acadêmico sobre as cotas trans realizado no mestrado e doutoranda em Educação (UERJ) com bolsa CAPES, além de pai, avó. Reconhecida como a primeira trans a ancorar no jornalismo brasileiro pela TVBrasil247.

114 artigos

HOME > blog

O uso ético da Inteligência Artificial na pesquisa científica: um guia essencial para pesquisadores

A mensagem é clara: as principais revistas científicas do mundo já aceitam o uso da IA, desde que seja feito de forma ética

Ilustração de Inteligência Artificial (IA) - 14/12/2023 (Foto: REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração/Arquivo)

A ascensão da Inteligência Artificial (IA) tem gerado debates acalorados em diversos campos, e a pesquisa científica não é exceção. Contudo, para acalmar os corações dos pesquisadores e desmistificar o uso da IA, a Dra. Fernanda Bueno Cardoso Scussel (@pesquisanapratica), doutora em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina e com experiência de consumo, lança luz sobre as diretrizes e as melhores práticas para integrar essa tecnologia ao ambiente acadêmico. A boa notícia? As principais revistas científicas do mundo já estão de portas abertas para a IA, desde que a transparência e a ética sejam prioridades.

IA como Ferramenta: O Que Pode e o Que Não Pode

A Dra. Scussel, conhecida por suas postagens esclarecedoras sobre IA, enfatiza que a Inteligência Artificial deve ser vista como uma ferramenta de apoio, não como uma substituta para a autoria humana. Isso significa que, enquanto a IA pode ser uma aliada poderosa na redação e revisão de textos, a responsabilidade final pelo conteúdo e pelas conclusões recai sempre sobre os autores.

“Você pode sim usar IA sem medo, desde que você a utilize como uma ferramenta”, explica a Dra. Scussel. “Isso quer dizer que você pode recorrer às ferramentas de IA para auxiliar na redação e na revisão de texto, desde que você faça uma revisão crítica do material gerado.” No entanto, é crucial deixar claro na carta de apresentação (cover letter) quais ferramentas foram usadas para edição.

Quando o assunto é a análise de dados, a transparência se torna ainda mais vital. “Se você usar a IA para análise de dados, precisa descrever passo a passo como isso foi feito na sua seção de método”, alerta a pesquisadora. Essa explicação deve estar detalhada nos procedimentos metodológicos.

Os Riscos do Uso Inadequado: Por Que a IA Não Pode Ser Autora

Apesar de todas as vantagens, a Dra. Scussel destaca os riscos de um uso irresponsável da IA. As editoras científicas são categóricas: a IA não pode ser autora de publicações científicas. “Se você usou a IA para gerar o seu texto, precisa saber que isso não é recomendado, já que a responsabilidade pelo conteúdo e pelas conclusões é sempre de quem assina o artigo — você e seus coautores”, afirma a Dra. Fernanda.

Apostar no “seja o que Deus quiser” ao deixar o texto nas mãos da IA pode acarretar sérios problemas, como:

  • Violação das políticas de transparência e integridade acadêmica, que podem levar à rejeição do artigo ou até à revogação de publicações anteriores.
  • Problemas associados a plágio, pois outros pesquisadores podem utilizar os mesmos textos gerados pela IA.
  • Complicações legais relacionadas à violação de direitos autorais ou normas de publicação.

“Tenha um registro das ferramentas que você usou em cada etapa da pesquisa. Isso pode, inclusive, te ajudar a organizar melhor o seu processo de pesquisa, viu?”, aconselha a Dra. Scussel.

A Planilha de Registro de Ferramentas de IA: Organização e Transparência na Prática

Para auxiliar os pesquisadores nesse processo é sugerido uma estratégia eficiente: a utilização de uma planilha de registro de ferramentas de IA. Essa ferramenta, fundamental para organizar e documentar o processo de pesquisa, é especialmente útil na elaboração da declaração de uso de IA, exigida por muitas conferências e artigos.

Para que a planilha funcione, recomenda-se:

  • Atualização constante: Documentar o uso de qualquer IA sempre que ocorrer.
  • Detalhamento: Descrever o objetivo do uso e os resultados gerados pela IA.
  • Registro de comandos (prompts): Essencial para futuras pesquisas.
  • Percepção sobre a eficácia: Anotar a experiência e as modificações feitas nas respostas.
  • Revisão periódica: Manter a planilha atualizada e adaptá-la conforme a necessidade.
  • Organização e acessibilidade: Garantir que a planilha seja uma fonte confiável para a declaração de uso da IA.

Como Declarar o Uso da IA: Modelos e Boas Práticas

Observe os modelos de como declarar o uso da IA, adaptáveis às exigências das diferentes revistas:

Se a revista exige uma seção ao final do artigo:

  • Declaração sobre o uso de inteligência artificial no processo de pesquisa:
  • “Durante a preparação deste trabalho, o(s) autor(es) utilizaram a ferramenta [NOME DA IA] com o objetivo de [O QUE VOCE QUERIA]. Como resultado [ESCREVA O QUE A IA GEROU]. Após a obtenção do resultado gerado pela IA, o conteúdo foi revisado e editado para integração ao manuscrito, conforme as diretrizes de publicação. O(s) autor(es) assumem total responsabilidade pelo conteúdo do artigo publicado.”

Se a revista exige que a declaração componha a carta de apresentação (cover letter):

  • “Este trabalho utilizou ferramentas de inteligência artificial nas seguintes etapas do processo de pesquisa:
  • [Escreva o nome da etapa]
  • [Escreva o nome da ferramenta usada]
  • [Descreva brevemente como a ferramenta foi usada]
  • [Descreva brevemente os resultados gerados pela IA]
  • [Descreva brevemente como esses resultados foram usados]
  • Embora a IA tenha contribuído para [EXPLICAR COMO A IA AJUDOU], os autores permanecem responsáveis pela precisão e pela integridade do conteúdo apresentado. Todo o material gerado foi revisado e ajustado pelos autores para garantir a conformidade com as diretrizes da [NOME DA REVISTA].”

Aqui exemplificamos com um caso prático de edição de texto: “Na etapa de edição de texto, recorremos ao ChatGPT para nos auxiliar na revisão do texto. Usamos comandos seguros, que solicitavam apenas a revisão de gramática, ortografia e pontuação, solicitando que nenhuma informação fosse acrescentada ao texto original. Com isso, a ferramenta gerou textos mais coerentes e estruturados, que foram incorporados ao manuscrito após uma minuciosa revisão da resposta obtida por meio da IA.”

Recomendações Finais para uma Pesquisa Responsável

Para finalizar, ressalta-se a importância de se familiarizar com as diretrizes específicas de cada revista, adaptar os modelos de declaração, e considerar a possibilidade de enviar a planilha de registro de ferramentas de IA como material suplementar. “Manter seus dados organizados não apenas facilita essa disponibilização, mas também ajuda a confirmar a existência dos dados e a confiabilidade dos resultados e análises apresentados no seu trabalho”, conclui.

A mensagem é clara: as principais revistas científicas do mundo já aceitam o uso da IA, desde que seja feito de forma ética, consciente e bem documentada. Ao seguir essas orientações, os pesquisadores não apenas garantem a integridade de seus trabalhos, mas também contribuem para o avanço responsável da ciência.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Cortes 247

Carregando anúncios...
Carregando anúncios...