O retirante
O gozo não é ter, mas o de que os outros não tenham
Era o pior cartão postal, onde apareciam em matérias jornalísticas o nascimento de pessoas com as feições de homem num corpo de criança, devido à falta de alimentação. Como uma reportagem de 1995, na Folha de São Paulo, na qual traz o homem-gabiru, como uma sub-raça. Apesar do quadro da subnutrição e má formação física de alguns nascidos, sabemos que existem pessoas pequenas em tamanho e características próprias em qualquer região do país – por certo não era o quadro do Nordeste, mas um higienismo deslavado, para justificar a omissão de políticas públicas. Os coronéis cochilam na cadeira de balanço enquanto tripudiam dos sertanejos, com a rapadura, a farinha e a água dos açudes minguadas. Em 2003, as pesquisas apontavam que cerca de 50 milhões de brasileiros, quase um terço da população sobrevivia comendo mal ou sem comer por dias, padecendo ou caçando algum calango entre as caatingas.
Esses bolsões de miséria fizeram homens, mulheres e crianças retirantes no pau de arara, a correr trecho até a construção civil paulistana. No trabalho da construção se mostravam o forte dos Sertões de Euclides da Cunha, na versatilidade e na inteligência do manejo. O preconceito contra o nordestino persiste até hoje. Atualmente, se planta, se colhe e se investe na região nordeste outrora esquecida, enquanto o Sul sempre lembrado já recebia incentivos do governo imperial na imigração europeia.
Há um racismo e ignorância de abastados contra o nordestino “o qual não devia ter vindo para cá”. Apesar de tudo, a persistência é marca desses brasileiros que edificaram muitos arranha-céus e movimentaram caldeiras e linhas de montagens de veículos em São Paulo. Em 2003, um retirante e nordestino de Garanhuns venceu as eleições presidenciais e trouxe muitos programas sociais, os quais nem todos dá para esmiuçar num artigo.
Já no seu primeiro ano de governo lançou um dos programas mais audaciosos. O Fome Zero. Exitoso e copiado pelo mundo todo. Conforme a ONU, o Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014, no governo Dilma – foi manchete em todos os jornais, inclusive na grande mídia nacional e internacional. Ufa, Brasil saiu do mapa da fome!
Mas pobre não pode se dar bem, não é mesmo? Andar de avião, fazer as unhas, usar bolsa de marca, passear, ter casa nova. Não faltou jogos rasteiros da mídia e mal-estar da elite enciumada.
O que querem agora? Está na testa dessa gente rica, o gozo não é ter, mas o de que os outros não tenham. Atualmente a mesma ladainha de cortar gastos, rebaixar os salários, fechar o INSS e o SUS. Já viu algum rico pagar imposto sobre seu jatinho, iate ou não ter perdão de dívidas passadas?! – estão se mordendo de raiva.
Como ficou o Fome Zero? Após os governos de Direita com Temer e Bolsonaro, a fome retornou ao país. Quando Lula foi eleito em 2022 já havia 33 milhões de pessoas famélicas, novamente! Com grande esforço o governo de Luíz Inácio reduziu para 8,3 milhões os famintos e caminha para erradicar até o fim do mandato.
Insensíveis com a questão social e condoídos pela elite financeira, deputados e senadores boicotam votações no Congresso e querem cortar gastos, não deles, claro.
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