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Oliveiros Marques

Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas

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O problema não é a CLT

Está na hora desses empresários encararem o verdadeiro problema: : o nó está nos baixos salários que vocês oferecem

Carteira de trabalho (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Coitados dos empresários brasileiros que não conseguem contratar. Leio as matérias da grande imprensa, com “pesquisas” da FIESP e declarações discriminatórias, como as do Rei do Ovo, sobre as dificuldades que estão enfrentando para contratar trabalhadores e trabalhadoras, e me vêm lágrimas aos olhos.

E qual é a narrativa desses senhores? A culpa, segundo eles, é da Consolidação das Leis do Trabalho — a velha CLT —, essa “bruxa” que estaria impedindo os trabalhadores de alcançar a tão sonhada flexibilidade nas jornadas, para assim terem mais tempo para suas vidas pessoais.

Mas minha tese vai por outro caminho. Essa história de “mais tempo livre” pode até ser mencionada pelos trabalhadores nas entrevistas, mas o que está por trás disso é outra coisa: a necessidade de mais tempo para trabalhar e, assim, aumentar suas rendas. Porque, sejamos honestos, não conheço motorista de aplicativo com jornada inferior a 12 horas diárias, trabalhando seis dias por semana. E tudo isso sem adicional noturno, o que, dependendo do leilão das corridas à noite, pode até ser negativo.

O problema central dessa recusa em aceitar vagas formais está muito mais ligado aos baixos salários oferecidos do que a qualquer suposta busca por ócio, e muito menos, como disse aquele canalha, por “vício” em programas sociais. O verdadeiro obstáculo são os salários miseráveis oferecidos pelos nossos meritocráticos empreendedores, muitos deles viciados em financiamentos públicos baratos.

E olha que não é por influência de discursos marxistas — mas os trabalhadores estão, por conta própria, descobrindo um velho conceito: o da mais-valia.

Eles fazem conta. E na ponta do lápis, fica evidente que o que o patrão oferece é injusto. Aceitar as condições oferecidas, invariavelmente, significa abrir entregar sua força de trabalho apenas para engordar ainda mais o lucro dos empresários.

Vamos ao exemplo mais emblemático: o famoso Rei do Ovo.

Além de oferecer um salário de R$1.670,00 por mês para trabalhar em uma granja — abaixo da média nacional —, ele ainda é investigado por irregularidades nos contratos de trabalho e atraso no pagamento de salários e benefícios. Ou seja: além de ganhar mal, o trabalhador ainda corre o risco de nem receber. É perfeitamente aceitável que muitos trabalhadores e trabalhadoras não queriam entrar nessa cloaca.

Está na hora desses empresários encararem o verdadeiro problema. Sei que pode arder em seus olhos, mas é preciso olhar com honestidade: o nó está nos baixos salários que vocês oferecem. Esse papo de tempo livre é cortina de fumaça. Experimentem oferecer salários dignos e jornadas humanas, como se faz em países que vocês adoram chamar de “primeiro mundo”, e vejam se não chove candidatos.

Quer resolver a “falta de mão de obra”? Diminuam um pouco os dividendos — isso mesmo, aqueles que vocês não querem que sejam taxados — e invistam em remuneração justa para os trabalhadores. Aí talvez parem de “sofrer” tanto.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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