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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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O povo vai cair na conversa de Armínio Fraga e Campos Neto?

“Globo e Folha usam os ex-presidentes do BC para dizer aos brasileiros que os milionários estão certos”, escreve Moisés Mendes

Roberto Campos Neto (Foto: Reuters/Ueslei Marcelino)

Armínio Fraga e Roberto Campos Neto decidiram falar, não em defesa da sempre arrogante racionalidade neoliberal, mas em nome do povo, para atacar a campanha por justiça tributária, ou o que chamam de nós contra eles.

A Globo subiu mais um degrau em direção a Tarcísio de Freitas e ao bolsonarismo e teve seu dia de Record ao usar Armínio para abrir uma longa reportagem do Jornal Nacional na semana passada.

Sem surpresas, se a intenção fosse fazer com que o milionário ex-presidente do BC falasse para a sua turma. Mas Armínio e os outros escalados para atacar Lula e as esquerdas falaram olhando para os trabalhadores e os pobres. 

O Jornal Nacional apresentou um super-rico como alguém que defende os interesses da maioria. E esse é o problema. Se a Globo acredita mesmo que Armínio fala em nome da maioria que paga impostos e não da minoria que não paga, é porque há algum sentido nessa tramoia. 

O Jornal Nacional nos desafia a responder à provocação feita com a exposição de Armínio. Essa é a provocação: vocês pensam que não, mas há pobres acreditando que Armínio defende mesmo os pobres. E em meio à exacerbação da luta dos ricos contra todos os não ricos, e não apenas contra os pobres.

Mas não foi sempre assim? Foi, mas pode estar piorando. A Globo apostou na amplificação das vozes que já convenceram muita gente de que falam pelas maiorias. E que levaram aos vários formatos da figura resumida como o pobre de direita.

Todos os que estudam e refletem sobre o fenômeno da identificação do pobre com a prosperidade dos milionários sabem do que se trata, do antropólogo argentino Alejandro Grimson ao sociólogo brasileiro Jessé Souza.

O pobre que cansou de ser pobre, que viu avós e pais trazerem essa canseira desde o tempo em que se falava da luta de classes e de interesses coletivos, esse pobre é puxado pela Globo, no Jornal Nacional, para a sala da hipnose individualista de Armínio Fraga.

Armínio não fala só para a sua turma, mas como quem entende de povo. Larguem dessa ideia de pobres contra ricos, porque isso não dá certo. É o que dizem desde sempre e vão repetir, porque funciona. Se não funcionasse, o cenário seria outro.

Chegamos ao momento em que o sofisticado discurso de Armínio se mistura sem disfarces à fala rasa da extrema direita. Liberais e fascistas, que formaram o painel mostrado no Jornal Nacional da semana passada, nos oferecem o retrato da hora. 

Armínio aparece antes de Rogério Marinho e de Hugo Motta na reportagem da Globo, porque a Faria Lima, o centrão, os bolsonaristas e os grileiros têm os mesmos interesses e discursos, mas os ricos têm reputação. Armínio só ainda não bebeu uísque na boca da garrafa. 

O sujeito que prega contra a correção do salário mínimo acima da inflação, pede cortes de verbas públicas na área social e faz campanha da boca pra fora pela tributação dos ricos é o que se apresenta falando aos pobres e combatendo a campanha que dá voz aos pobres.

É uma estratégia que aposta na confusão de como os trabalhadores e a classe média se enxergam hoje. No domingo, a Folha aproveitou a ideia da Globo e colocou Roberto Campos Neto na capa.

Com a mesma conversa de que o nós contra eles não funciona e uma lição dirigida a Lula: "As ideologias de esquerda têm uma obsessão com igualdade e não com a diminuição da pobreza". 

Agora só falta Globo e Folha oferecerem a manchete a Gustavo Franco, o sujeito que ajudou a quebrar o Brasil na presidência do Banco Central, na crise cambial do segundo governo de Fernando Henrique.

Mas a pergunta se mantém, impávida e desafiadora: a aposta nos milionários como voz dos pobres pode funcionar, para pelo menos enrolar e confundir a cabeça da classe média ressentida?

Os recados de Armínio e Campos Neto terão o efeito que Globo e Folha esperam? Os pobres vão continuar ouvindo os ricos liberais que se aliaram descaradamente à extrema direita?   

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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