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Daniel Samam

Daniel Samam é Músico, Educador e Editor do Blog de Canhota. Está Coordenador do Núcleo Celso Furtado (PT-RJ), está membro do Instituto Casa Grande (ICG) e está membro do Coletivo Nacional de Cultura do Partido dos Trabalhadores (PT).

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O governo Lula 3 e o desafio de 2026: Como vencer a extrema-direita?

A história do PT e de Lula é marcada pela capacidade de reinvenção e superação de adversidades. É essa capacidade que precisará ser mobilizada, mais uma vez

Lula - 24/05/2025 - Campo Verde - MT (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

O Brasil vive hoje um momento decisivo. Após a vitória apertada de Lula nas eleições de 2022, que representou a retomada do projeto democrático após o período bolsonarista, o país enfrenta agora uma série de desafios que podem definir não só o resultado das próximas eleições, mas o futuro da própria democracia brasileira.

A pesquisa Genial Quaest divulgada na última quarta-feira (05/06) traz números preocupantes: a aprovação do governo Lula caiu para 40%, enquanto a desaprovação subiu para 57%, o pior resultado desde o início do mandato. Mais alarmante ainda, 66% dos brasileiros acham que Lula não deveria tentar a reeleição em 2026, e o presidente aparece tecnicamente empatado com vários possíveis candidatos da direita em simulações de segundo turno.

Esses números não são apenas estatísticas frias. São sinais de alerta que exigem uma reflexão profunda sobre os rumos do governo e do projeto político que ele representa, especialmente considerando que a extrema-direita, mesmo após a derrota eleitoral e a inelegibilidade de Bolsonaro, mantém forte capacidade de mobilização e influência política.

O governo Lula 3 está numa encruzilhada histórica. Para construir um projeto vitorioso em 2026 capaz de derrotar a extrema-direita, será necessário enfrentar três grandes desafios: reconectar-se com suas bases tradicionais e conquistar novos eleitores; implementar um programa econômico que combine estabilidade com distribuição de renda; e renovar as práticas políticas e a comunicação governamental.

O primeiro desafio é urgente. A pesquisa mostra uma erosão preocupante do apoio ao governo em setores que sempre foram a espinha dorsal do petismo. Entre os idosos, a aprovação caiu 26 pontos percentuais desde a posse. No Sudeste, apenas 32% aprovam o governo atual. Essa perda de apoio não é acidental nem inevitável. Resulta de expectativas não atendidas, percepção negativa sobre a economia, impacto de escândalos como o do INSS e dificuldades de comunicação.

O escândalo do INSS é um exemplo claro desse problema. Ao afetar diretamente os beneficiários da previdência, majoritariamente idosos, o caso atingiu um nervo sensível da base tradicional petista. Não é apenas um problema administrativo ou de corrupção, mas uma quebra de confiança com um segmento que sempre viu no PT um defensor dos direitos sociais e da dignidade na velhice.

Mas reconectar-se com as bases tradicionais exige mais do que gerenciar crises. Requer um diálogo constante que reconheça as transformações ocorridas na sociedade brasileira nas últimas décadas. O PT nasceu enraizado nos movimentos sociais, com forte presença nos sindicatos, nas comunidades religiosas de base, nos movimentos de moradia e de luta pela terra. Com o tempo, houve um afastamento gradual entre o partido e esses movimentos, com a institucionalização das relações e a burocratização das práticas políticas.

Reverter esse processo exige valorizar os espaços de participação social, fortalecer os conselhos de políticas públicas, apoiar as lutas sociais e reconhecer a autonomia dos movimentos. Mais do que palavras, são necessárias políticas concretas que respondam às demandas históricas desses setores, como a reforma agrária, a demarcação de terras indígenas, o combate ao racismo e a ampliação dos direitos trabalhistas.

Ao mesmo tempo, o governo precisa reconhecer que o Brasil de 2025 não é o mesmo de 2003 ou mesmo de 2010. Novas questões surgiram, novas identidades se afirmaram, novas formas de organização e mobilização apareceram, especialmente no ambiente digital. A juventude que hoje se engaja politicamente tem referências e linguagens diferentes das gerações anteriores. Temas como a diversidade, a sustentabilidade ambiental, a economia criativa e direitos digitais ganharam importância no debate público.

Para dialogar com esses novos segmentos, o governo e o PT precisam superar certo conservadorismo cultural que ainda marca sua atuação. Não se trata de abandonar princípios, mas de reconhecer a legitimidade dessas novas demandas. A defesa dos direitos individuais, o combate ao racismo, a proteção do meio ambiente e a promoção da diversidade cultural não são concessões táticas, mas elementos essenciais de um projeto de sociedade verdadeiramente democrático e inclusivo.

Um exemplo concreto dessa necessidade de renovação é a relação com o eleitorado evangélico, que representa hoje cerca de 30% da população brasileira e tem sido majoritariamente conquistado pela direita. A pesquisa mostra que a aprovação do governo Lula entre os evangélicos é significativamente menor do que na população em geral. Essa realidade não pode ser ignorada nem tratada com preconceito.

O diálogo com esse segmento exige o reconhecimento de sua diversidade interna e da legitimidade de suas crenças religiosas. Exige também entender que muitos evangélicos, especialmente nas periferias urbanas, compartilham preocupações fundamentais com a justiça social, o combate à pobreza e a defesa da dignidade humana. A construção de pontes com lideranças evangélicas progressistas e o apoio a iniciativas sociais desenvolvidas por igrejas em comunidades vulneráveis podem ser caminhos promissores para essa aproximação.

Outro segmento estratégico são as mulheres, especialmente as de baixa renda e chefes de família. Historicamente, esse grupo tem sido uma base importante de apoio ao PT e a Lula, reconhecendo os avanços em políticas de proteção contra a violência doméstica, valorização do salário mínimo e programas de transferência de renda. No entanto, a pesquisa mostra uma queda na aprovação do governo também entre as mulheres, embora menos acentuada do que entre os homens.

Para reconquistar e ampliar o apoio desse segmento, o governo precisa fortalecer políticas específicas para as mulheres, como o combate à violência de gênero, a garantia de direitos reprodutivos, a promoção da igualdade salarial e o apoio à maternidade através de creches e licenças parentais. Mais do que isso, precisa incorporar a perspectiva de gênero em todas as políticas públicas.

O segundo grande desafio é o econômico. O governo Lula 3 precisa implementar um programa que combine estabilidade macroeconômica com distribuição de renda e desenvolvimento sustentável. Esse desafio é particularmente complexo porque ocorre em um contexto de restrições fiscais, pressões inflacionárias, transformações na economia global e expectativas elevadas da população por melhorias imediatas em sua qualidade de vida.

A pesquisa revela uma percepção predominantemente negativa sobre a economia brasileira: 48% dos entrevistados consideram que a economia piorou nos últimos 12 meses, enquanto apenas 20% acreditam que melhorou. Essa percepção negativa é ainda mais acentuada em relação à inflação e ao poder de compra: 61% consideram que os preços dos alimentos subiram no último mês, e 38% afirmam que seu poder de compra diminuiu em comparação a um ano atrás.

Esses números contrastam com alguns indicadores macroeconômicos positivos, como o crescimento do PIB de 3,4% em 2024 e a redução da taxa de desemprego para 7,5% no primeiro trimestre de 2025, o menor nível para o período desde 2012. Essa diferença entre dados objetivos e percepção subjetiva é comum em economia política, mas sua magnitude atual representa um desafio particular para o governo, que precisa não apenas melhorar indicadores, mas fazer com que essa melhora seja sentida no dia a dia das famílias brasileiras.

O desafio econômico do governo pode ser entendido a partir de três dimensões interligadas: a estabilidade macroeconômica, a distribuição de renda e o desenvolvimento sustentável. A estabilidade macroeconômica é um pré-requisito para qualquer projeto de desenvolvimento de longo prazo. Inflação elevada, déficits públicos insustentáveis e desequilíbrios externos comprometem a capacidade de planejamento, prejudicam especialmente os mais pobres e limitam o espaço para políticas públicas transformadoras.

O governo tem buscado manter essa estabilidade através do novo arcabouço fiscal, que substituiu o teto de gastos, e de uma política monetária conduzida por um Banco Central autônomo. No entanto, essas escolhas não estão livres de contradições. O arcabouço fiscal, embora mais flexível que o teto de gastos, ainda impõe limites significativos à expansão dos investimentos públicos necessários para impulsionar o crescimento e financiar políticas sociais. A política monetária do Banco Central, com juros elevados para controlar a inflação, encarece o crédito, desestimula investimentos produtivos e aumenta o custo da dívida pública.

Essas contradições se manifestam em debates acalorados dentro do próprio governo e da base aliada. De um lado, a equipe econômica defende a necessidade de consolidação fiscal e controle da dívida pública como condições para a estabilidade e o crescimento sustentável. De outro, setores mais à esquerda criticam o que consideram uma submissão excessiva à ortodoxia econômica e defendem uma política fiscal mais expansionista, com aumento dos investimentos públicos.

O próprio presidente Lula tem oscilado entre essas posições, ora defendendo a responsabilidade fiscal, ora criticando os juros altos e a "obsessão" com o controle da inflação. Essa ambiguidade gera incertezas sobre os rumos da política econômica, contribuindo para a percepção negativa sobre a economia.

A superação desse impasse exige a construção de um novo consenso econômico dentro do governo e da sociedade, que reconheça tanto a importância da estabilidade macroeconômica quanto seus limites como objetivo único da política econômica. Concretamente, isso significa avançar em uma reforma tributária progressiva que amplie a base de arrecadação e reduza desigualdades; implementar uma revisão abrangente dos gastos públicos que elimine privilégios e ineficiências sem comprometer serviços essenciais; e desenvolver instrumentos inovadores de financiamento do desenvolvimento.

A segunda dimensão do desafio econômico é a distribuição de renda, historicamente um dos pilares do projeto petista. O Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo, com uma concentração de renda e riqueza que compromete não apenas a justiça social, mas também o próprio dinamismo econômico, ao limitar o mercado interno e perpetuar estruturas produtivas atrasadas.

Os governos petistas anteriores conseguiram avanços significativos na redução da pobreza e da desigualdade através de políticas como a valorização do salário mínimo, a expansão dos programas de transferência de renda, o aumento do acesso ao crédito para famílias de baixa renda e a ampliação de políticas públicas universais como saúde e educação.

O governo Lula 3 retomou e, em alguns casos, ampliou essas políticas. No entanto, o contexto atual é significativamente mais desafiador do que o dos anos 2000, com restrições fiscais mais severas, um cenário internacional menos favorável e transformações profundas no mundo do trabalho que limitam o alcance das políticas tradicionais de inclusão social.

O avanço da automação, a precarização das relações de trabalho através de plataformas digitais, a desindustrialização prematura e a financeirização da economia criam novas formas de exclusão e desigualdade que exigem respostas inovadoras. Políticas que foram eficazes no passado podem não ser suficientes para enfrentar os desafios do presente e do futuro.

Nesse sentido, o governo precisa desenvolver uma nova geração de políticas de distribuição de renda e inclusão social, que combine a manutenção e aperfeiçoamento das políticas bem-sucedidas do passado com inovações que respondam às novas realidades econômicas e sociais.

A terceira dimensão do desafio econômico é o desenvolvimento sustentável, entendido não apenas como crescimento econômico ambientalmente responsável, mas como um processo de transformação estrutural da economia brasileira que amplie sua complexidade, reduza vulnerabilidades externas e promova a inovação e a sustentabilidade.

O Brasil enfrenta há décadas um processo de desindustrialização prematura e reprimarização da pauta exportadora, com crescente dependência de commodities agrícolas e minerais. Esse processo compromete a capacidade do país de gerar empregos de qualidade, desenvolver tecnologias próprias e agregar valor à sua produção.

O governo tem buscado reverter essa tendência através da retomada de políticas industriais ativas, com o lançamento da Nova Indústria Brasil, e do fortalecimento de instituições de fomento como o BNDES. No entanto, essas iniciativas ainda parecem insuficientes diante da magnitude do desafio e das transformações em curso na economia global, marcadas pela transição energética, pela digitalização acelerada e pela reorganização das cadeias produtivas globais.

Uma política de desenvolvimento sustentável para o Brasil do século XXI deve ir além da nostalgia industrial e da dependência de commodities, para construir um novo modelo que combine as vantagens comparativas do país em recursos naturais e energias renováveis com investimentos estratégicos em setores de alta tecnologia e conhecimento intensivo.

O terceiro grande desafio é a renovação das práticas políticas e da comunicação governamental. A sociedade brasileira mudou significativamente nas últimas décadas. A revolução digital transformou radicalmente a forma como as pessoas se informam, se comunicam e se organizam politicamente. As redes sociais criaram novos espaços de debate público, com dinâmicas próprias que frequentemente escapam ao controle das instituições tradicionais. Novas identidades e pautas emergiram, reivindicando reconhecimento e representação. A confiança nas instituições políticas tradicionais, incluindo partidos e governos, atingiu níveis historicamente baixos.

Nesse contexto, práticas políticas que foram eficazes no passado mostram-se cada vez mais inadequadas ou insuficientes. A política tradicional, baseada em negociações de gabinete, alianças pragmáticas e comunicação unidirecional, enfrenta crescente desconfiança e rejeição, especialmente entre os mais jovens. A extrema-direita soube explorar habilmente esse descontentamento, apresentando-se como uma alternativa "antissistema" e utilizando as redes sociais para construir conexões diretas com o eleitorado, frequentemente baseadas em desinformação e polarização.

O governo Lula 3 e o PT enfrentam o desafio de renovar suas práticas políticas e comunicacionais sem abandonar seus princípios fundamentais nem ceder à tentação do populismo digital. Essa renovação deve começar pelo reconhecimento de que a política democrática no século XXI exige novas formas de participação, transparência e prestação de contas, que vão além dos mecanismos representativos tradicionais.

A participação popular foi sempre uma bandeira histórica do PT, materializada em experiências como o orçamento participativo e os conselhos de políticas públicas. No entanto, essas experiências, por mais importantes que tenham sido, mostram-se hoje insuficientes diante das novas possibilidades tecnológicas e das novas expectativas de participação da sociedade. O governo tem a oportunidade de desenvolver uma nova geração de mecanismos participativos, que combinem a tradição dos espaços presenciais com as potencialidades das tecnologias digitais.

A transparência e o combate à corrupção são dimensões essenciais dessa renovação política. O escândalo do INSS evidencia a persistência de vulnerabilidades nos sistemas de controle e a necessidade de um compromisso inequívoco com a integridade pública. Esse compromisso não pode ser apenas retórico ou reativo, mas deve se traduzir em políticas concretas de prevenção, detecção e punição de desvios, independentemente de quem sejam os envolvidos.

A renovação das práticas políticas passa também pela forma como o governo se relaciona com o Congresso Nacional e com os demais entes federativos. O presidencialismo de coalizão brasileiro, com sua lógica de distribuição de cargos e recursos em troca de apoio parlamentar, tem se mostrado cada vez mais disfuncional e deslegitimado aos olhos da população. O governo tem buscado construir uma base de apoio no Congresso através de alianças com partidos de centro e de direita moderada, seguindo o modelo tradicional.

No entanto, essa estratégia enfrenta crescentes tensões e contradições. Por um lado, ela é justificada como necessária para a governabilidade em um Congresso majoritariamente conservador. Por outro, ela gera críticas de setores mais à esquerda, que veem nessas alianças um abandono de princípios programáticos e uma submissão à lógica fisiológica da "velha política".

A superação desse dilema exige uma renovação da relação entre Executivo e Legislativo, baseada menos na distribuição clientelista de recursos e mais na construção de convergências programáticas em torno de temas de interesse nacional. Isso não significa ignorar as realidades do sistema político brasileiro, mas buscar transformá-las gradualmente através de práticas mais transparentes, participativas e orientadas por princípios. É a discussão em torno do projeto nacional.

A comunicação governamental é outro aspecto crucial que demanda renovação. A pesquisa revela que 43% dos entrevistados afirmam ter visto mais notícias negativas do que positivas sobre o governo Lula, enquanto apenas 22% dizem ter visto mais notícias positivas. Essa percepção de cobertura predominantemente negativa contribui para a deterioração da imagem do governo e para a dificuldade em reverter a tendência de queda na aprovação.

O governo tem investido em comunicação digital, com presença ativa nas redes sociais e produção de conteúdo para diferentes plataformas. No entanto, analistas apontam que a comunicação digital do governo ainda enfrenta desafios para competir com a eficiência das redes bolsonaristas, que conseguem mobilizar apoiadores e disseminar mensagens de forma mais orgânica e viral.

A renovação da comunicação governamental passa pela compreensão de que, no ambiente digital contemporâneo, a comunicação não é mais unidirecional, mas dialógica e participativa. Não basta produzir e distribuir conteúdo; é preciso engajar os cidadãos em conversações significativas, responder a suas dúvidas e críticas, e construir comunidades ativas em torno de causas e valores compartilhados.

Essa comunicação renovada deve ser autêntica, transparente e baseada em evidências, evitando tanto o ufanismo desconectado da realidade quanto o tecnicismo inacessível à maioria da população. Deve utilizar linguagens e formatos adaptados a diferentes públicos e plataformas, sem perder a coerência da mensagem central. E deve, sobretudo, conectar as ações e realizações do governo com as experiências cotidianas e aspirações concretas dos brasileiros.

Um exemplo dessa necessidade de renovação comunicacional é a forma como o governo tem lidado com o escândalo do INSS. Inicialmente, houve uma tentativa de minimizar o caso e atribuir toda a responsabilidade ao governo anterior. À medida que novas informações surgiam e a repercussão negativa aumentava, o governo foi forçado a adotar uma postura mais proativa, anunciando medidas para reformular o instituto e punir responsáveis.

No entanto, essa comunicação reativa e defensiva não foi suficiente para conter o desgaste político do caso. Uma abordagem mais transparente, assumindo responsabilidades quando necessário e demonstrando compromisso inequívoco com a apuração dos fatos e a punição dos culpados, poderia ter sido mais eficaz em preservar a confiança pública.

Esses três desafios – reconexão com as bases e conquista de novos eleitores, implementação de um programa econômico equilibrado e renovação das práticas políticas e comunicacionais – não são independentes, mas profundamente interligados. A reconexão com as bases sociais depende, em grande medida, da capacidade do governo de implementar políticas econômicas que melhorem concretamente a vida da população e de comunicar efetivamente suas realizações. A renovação política e comunicacional, por sua vez, é condição necessária tanto para a reconexão social quanto para a construção de consensos em torno de um novo modelo de desenvolvimento.

A pesquisa Genial Quaest, com seus dados preocupantes sobre a aprovação do governo e as perspectivas eleitorais para 2026, deve ser vista não como uma sentença definitiva, mas como um alerta que exige reflexão e ação. O tempo até as próximas eleições presidenciais é suficiente para reverter tendências negativas e construir um projeto vitorioso, desde que haja clareza estratégica, coragem política e capacidade de aprendizado e renovação.

O que está em jogo não é apenas a continuidade administrativa de um governo ou o destino eleitoral de um partido, mas o próprio futuro da democracia brasileira. A extrema-direita, mesmo após a derrota eleitoral e a inelegibilidade de seu principal líder, mantém significativa capacidade de mobilização e influência política. Seu projeto, baseado na negação da política democrática, no autoritarismo, na intolerância e na submissão aos interesses do capital financeiro internacional, representa uma ameaça concreta às conquistas civilizatórias das últimas décadas.

Diante dessa ameaça, a resposta não pode ser a mera defesa do status quo ou a nostalgia de um passado idealizado. Deve ser a construção de um novo pacto democrático e popular, que mobilize as forças progressistas em torno de um horizonte de transformações estruturais, ao mesmo tempo em que dialoga com setores moderados preocupados com a estabilidade institucional do país.

Esse novo pacto deve ter como pilares uma democracia participativa e inclusiva, uma economia a serviço do bem-estar coletivo, um Estado eficiente e democrático, uma inserção soberana e solidária no mundo, e uma cultura política baseada no diálogo e no respeito à diversidade.

O presidente Lula, com sua extraordinária trajetória política e sua capacidade de conexão com o povo brasileiro, tem uma responsabilidade histórica nesse processo. Sua liderança continua sendo um ativo valioso para o campo progressista, mas precisa ser exercida de forma a promover a renovação e o surgimento de novas lideranças, evitando tanto o personalismo quanto a dependência excessiva de sua figura.

A alta rejeição à sua candidatura em 2026, revelada pela pesquisa, deve ser objeto de reflexão séria, não para descartar prematuramente a possibilidade de reeleição, mas para compreender suas causas profundas e buscar caminhos para superá-la. Essa superação passa necessariamente pela capacidade do governo de apresentar resultados concretos que melhorem a vida da população e de construir uma narrativa convincente sobre seu projeto para o Brasil.

O PT, por sua vez, precisa recuperar sua capacidade de diálogo com a sociedade e de formulação programática, superando tanto o pragmatismo governista quanto o dogmatismo ideológico. Precisa reconhecer as transformações ocorridas na sociedade brasileira e no mundo nas últimas décadas e adaptar seu projeto político a essas novas realidades, sem abandonar seus princípios fundamentais de justiça social, democracia e soberania nacional.

As demais forças progressistas, incluindo partidos políticos, movimentos sociais, intelectuais e artistas, têm um papel crucial na construção desse novo pacto democrático e popular. Sua contribuição crítica e propositiva é essencial para evitar que o governo se feche em si mesmo ou se acomode às pressões do status quo. Sua capacidade de mobilização e organização é fundamental para criar as condições sociais e políticas necessárias para transformações estruturais.

A sociedade brasileira vive um momento de encruzilhada histórica. O caminho que escolhermos nos próximos anos determinará não apenas o resultado das eleições de 2026, mas o próprio futuro da democracia e do desenvolvimento nacional nas próximas décadas. O governo Lula 3 e o PT têm a responsabilidade e a oportunidade de liderar a construção de um projeto que responda aos anseios de justiça, liberdade e dignidade do povo brasileiro.

Esse projeto não pode ser apenas uma reedição de experiências passadas, por mais bem-sucedidas que tenham sido em seu contexto histórico. Deve ser uma síntese criativa entre a fidelidade aos princípios fundamentais do projeto democrático-popular e a capacidade de renovação e adaptação às novas realidades do século XXI. Deve ser, simultaneamente, um escudo contra o autoritarismo e um farol para um futuro de justiça social, desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental.

A história do PT e de Lula é marcada pela capacidade de reinvenção e superação de adversidades. É essa capacidade que precisará ser mobilizada, mais uma vez, para transformar a atual crise em oportunidade de renovação e fortalecimento do projeto democrático-popular. O desafio é imenso, mas as alternativas são inaceitáveis. O que está em jogo é nada menos que o futuro da democracia brasileira e a possibilidade de construir um país mais justo, soberano e sustentável para as atuais e futuras gerações.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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