O Corpus Christi e a fome
Depois de dois milênios ainda há fome no mundo e mortes por inanição semeadas pela maldade humana
É feriado antigo. Em Portugal, o dia do “Corpo de Deus” é comemorado com procissões, assim como em algumas cidades brasileiras. Aqui remanesce o costume de pintar ruas com "tapetes", parecidos com mosaicos, feitos de serragem colorida e outros materiais.
A grande discussão dos católicos com protestantes e anglicanos se deu no campo do sacramento eucarístico. Os católicos afirmavam que a hóstia recebida pelos fiéis na missa era o corpo e sangue de Jesus, que este, Jesus, se tornara pão mediante as palavras in memoriam do sacerdote, conforme a perícope da Última Ceia. Contudo, uma análise química evidenciará que é trigo ainda, assim como o vinho pode embriagar um sacerdote alcoólatra. Grandes discussões teológicas e divisoras de águas entre as religiões. Entretanto, o povo que tem fome de todo o tipo, nunca se preocupou com isso.
Por outro lado, a Eucaristia evidencia-se também na perícope da Multiplicação de pães e peixes. Jesus não cobrou ninguém nem acusou quem porventura não partilhasse do seu pão. Nem creio também que o rabino tenha dado uma forcinha. Não houve oração dele por um milagre – simplesmente incumbiu os discípulos da tarefa de distribuir, nada mais. Se houve um milagre foi humano, de mútua partilha, de pessoas num estado de graça. Ao que parece, todos compartilharam livre e conscientemente, como “companheiros”, ou seja, aqueles que comem pão juntos, em companhia. Jesus era mais sociável que o austero Batista, o qual comia gafanhotos com mel na sua reclusão do deserto. Depois de muito deserto, parece que os hebreus iam se encontrar com seus anseios, esse foi o advento do Cristianismo com propósito universal além do Judaísmo.
Na mesma ceia última, o rabino diz aos seus que farão mais que ele mesmo fez e alguns veem nisso as grandes ações contra a fome e miséria no mundo, grupos de religiosos ou não. Muitos ateus, sob o anonimato e desprendimento, se lançam a fazer o que nem Jesus quis reivindicar para si a autoria, a partilha é o que a palavra diz: partilha. Se houvesse um “milagre a mais” dessa ação na Galiléia, não seria o da partilha, mas daí uma simples multiplicação de pães e peixes de Contos da Carochinha.
Depois de dois milênios ainda há fome no mundo e mortes por inanição semeadas pela maldade humana.
No Congresso brasileiro, durante a pandemia, a Câmara aprovou a Medida Provisória 936/20, para redução de salários e jornada de trabalho ou suspensão de contrato trabalhista. Paulo Guedes, ministro de Bolsonaro, disse em relação aos servidores: “... abraçaram a gente, enrolaram com a gente. Nós já botamos a granada no bolso do inimigo. Dois anos sem aumento de salário”.
Atualmente, os deputados resistem em taxar grandes fortunas e são os que mais lucram, impondo aos menos favorecidos os custos do “progresso”, e validando a sentença de Jesus, de que fazem dos pobres em burros de carga: (...) amarram fardos pesados sobre os ombros dos outros, mas eles mesmos não levantam um dedo para ajudar.
Enfim, é feriado.
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