O bode de Trump
Como diz o ditado popular, colocaram o bode na sala. E quem vai tirá-lo de lá serão os próprios senhores da extrema-direita bolsonarista
Está clara a estratégia da extrema-direita em relação à taxação exorbitante imposta por Donald Trump ao Brasil. O presidente dos EUA, entre tantas inverdades escritas na carta enviada a Lula, não apresentou nenhuma prova concreta para sustentar a afirmação de que “precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco". Uma mentira descomunal.
Na realidade, a balança comercial entre os dois países é favorável aos EUA. Desde 2009, o Brasil tem importado mais do que exporta. Mas o que realmente interessa aos lesa-pátria Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, nas articulações para que Trump atacasse a soberania brasileira, é responsabilizar o presidente Lula pela retaliação.
Como diz o ditado popular, colocaram o bode na sala. E quem vai tirá-lo de lá serão os próprios senhores da extrema-direita bolsonarista, que hoje governam os principais estados do país.
Isso ficou evidente nas manifestações dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas; de Minas Gerais, Romeu Zema; e de Goiás, Ronaldo Caiado, sobre a absurda taxação imposta por Trump. Os três seguiram o mesmo roteiro: responsabilizaram o presidente Lula pela crise comercial com os EUA. Coube a Tarcísio descredenciar Lula como chefe de Estado. Disse o governador paulista: “Lula colocou sua ideologia acima da economia. Tiveram tempo para prestigiar ditaduras, defender a censura e agredir o maior investidor direto do Brasil... A responsabilidade é de quem governa. Narrativas não resolverão o problema".
Já o governador Ronaldo Caiado tocou no ponto central da minha suspeita ao propor a criação de uma comissão de parlamentares para negociar, sem a participação do presidente Lula, a redução da taxação com o governo Trump. Bingo! O plano está em andamento. A crise será alimentada até o ponto de tensão máxima. Só então Trump deve começar a negociar, caso a caso, a redução das tarifas com os governadores bolsonaristas.
Ou seja, a extrema-direita colocou o bode na sala e será ela mesma que irá retirá-lo, faturando os dividendos eleitorais.
É certo que esses acordos não serão feitos com os governadores aliados ao governo Lula.
Você deve estar se perguntando: e a cobrança feita por Trump para deixarem Bolsonaro em paz? Para que a Justiça brasileira cesse imediatamente o julgamento que Bolsonaro responde no STF?
Esse trecho da carta serve para reforçar o discurso vitimista de Jair Bolsonaro, fortalecendo, dentro do Congresso Nacional, uma possível aprovação de anistia ao ex-presidente.
Acredito que o presidente Lula deveria, com urgência, se dirigir à Nação em rede de rádio e televisão. Precisa expor com clareza a farsa em curso, explicar aos brasileiros que a extrema-direita está tentando transformar uma retaliação econômica injusta em palanque político. É fundamental desmontar essa armadilha antes que ela se consolide como verdade. O que está em jogo não é apenas uma disputa comercial, mas a soberania do país, a integridade das instituições democráticas e o futuro da economia brasileira. Não se trata mais de uma divergência ideológica; é um plano coordenado de sabotagem. Se o governo não reagir à altura, os mesmos que tentaram tomar o poder pela força podem acabar vencendo pelo desgaste. E isso o Brasil não pode permitir.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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