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Bepe Damasco

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Morte de Juliana é como se fosse a terceira execução de brasileiros pela Indonésia

Toda solidariedade à família de Juliana, que com certeza está devastada. Que tenham forças para suportar essa dor imensa e profunda

Juliana Marins, turista brasileira morta durante trilha na Indonésia - 25/06/2025 (Foto: Reprodução/Instagram/@resgatejulianamarins)

Em 2015, dois brasileiros foram fuzilados na Indonésia depois de serem condenados à morte por tráfico de drogas. Nos dois casos, o país negou todos os pedidos de clemência feitos pela então presidenta brasileira Dilma Rousseff.

Acabaram executados Marco Archer Cardoso Moreira e Rodrigo Muxfeldt Gularte, acusados de tentar entrar na Indonésia com cocaína, com base em uma das legislações antidrogas mais rígidas do mundo.

Agora, as circunstâncias que levaram à morte trágica de Juliana Marins, jovem montanhista brasileira, apontam para uma constatação inescapável: se não executou diretamente, como nos casos de Marco e Rodrigo, o governo da Indonésia, por meio de sua Agência Nacional de Busca e Resgate, tem óbvias responsabilidades pelo desfecho trágico do acidente.

Nenhum dos motivos alegados para a demora no resgate de Juliana convence. Vejamos: três horas depois da queda de Juliana da borda do vulcão Rinjani, sendo projetada a cerca de 600 metros abaixo da superfície do vulcão, turistas que estavam no local alertaram para o sumiço da moça.

A família de Juliana logo iniciou uma campanha nas redes sociais pelo seu resgate, além de acionar os meios de comunicação brasileiros e o governo indonésio. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil passou a pressionar o governo do país asiático por uma rápida solução.

A partir daí, a agência indonésia ou agiu com inaceitável lentidão, ou se omitiu, ou mentiu de forma criminosa, informando ao governo do Brasil que água, comida e agasalhos haviam sido entregues à Juliana.

Vale lembrar que a Indonésia é um país em desenvolvimento, com 245 milhões de habitantes (população maior do que a do Brasil) e que dispõe, ou deveria dispor, de estrutura e recursos para operações complexas de resgate.

As alegações de dificuldades climáticas, de baixa visibilidade e até de impossibilidade de acessar o local onde Juliana se encontrava por meio de helicóptero sempre deram a impressão de serem, no máximo, meias verdades.

Nada justifica que só quatro dias depois as equipes tenham encontrado Juliana, já sem vida. Diga-se de passagem: foram alpinistas independentes do governo que primeiro chegaram até ela. Acabo de ler que o parque onde se localiza o vulcão não tem equipe de resgate, o que é absurdo.

Não acredito que a Indonésia não tenha tecnologia para esse tipo de operação. Faltou um ou outro equipamento? Peça emprestado aos países vizinhos. No limite, se é verdade que a região é tão inóspita a ponto de dificultar ao extremo os resgates, por que ainda são permitidas trilhas ali?

Em casos como o de Juliana, todo mundo sabe que, a cada minuto, se reduzem as chances de encontrar a pessoa com vida. Que dirá quatro dias.

Também foi chocante a frieza dos comunicados dando conta da suspensão das buscas, como se um ser humano não estivesse padecendo de um sofrimento indizível, enfrentando frio, fome, sede, cansaço e desalento.

Toda solidariedade à família de Juliana, que com certeza está devastada. Que tenham forças para suportar essa dor imensa e profunda.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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