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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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Lourinho Americano

Não é preciso ir muito longe, para perceber que o Lourinho Americano tá querendo esculachar o mundo

Presidente dos EUA, Donald Trump, fala com repórteres, em Washington - 22/02/2025 (Foto: REUTERS/Craig Hudson)

Todo ano, o ano inteiro, ensaio meu samba. Mas sem essa de comprar surdo ou tamborim. Não gasto absolutamente nada em fantasias nem acredito que alguém vá desfilar pra mim. Mas chegou o carnaval. Continuo vivo. Ainda estou aqui, mas nada de correr atrás do trio. Livros, séries de televisão e muita música, mas não “música de carnaval”, outras. Carnaval é tempo de festa, diversão e catarse. É período de exorcizar nossos mais íntimos “demônios” e cair nos braços dos amores, sejam eles antigos, eternos ou de carnaval. 

Das músicas que tenho escutado e que ouvirei mais durante a calmaria da minha “folia” caseira está “Lourinha Americana”, de autoria do Mestre Laurentino, falecido aos 98 anos, no dia 21/12/24, e considerado o “roqueiro mais velho do Brasil”. Assim sendo, não correrei atrás do trio, não ouvirei Iemanjá sendo trocada por Yeshua e ignorarei solenemente as versões e as coreografias do “Trap do Trepa Trepa”. Não sou obrigado! Mas defenderei sempre o direito de todos aqueles que gostam. Afinal, o golpe do inelegível não deu certo e continuamos em uma democracia. E cá pra nós, existe algo mais democrático que carnaval de rua? 

Do Mestre Laurentino, selecionei o disco “Laurentino e os Cascudos”, que contém 10 maravilhosas canções. Entre elas, como dito, tem-se “Lourinha Americana”, cuja letra diz assim: “Essa lourinha americana/Está querendo me esculachar/Foi dizendo que eu sou neguinho, e bem neguinho/E lá na América eu não posso entrar/Mas o que eu mais me admiro/É de ver o americano/Quando chega no Brasil/Com negro vem se misturar”. Carregada de ironia e crítica social, a canção do Mestre Laurentino é um tapa na cara da hipocrisia. Além da versão de Laurentino, também é possível encontrar nos sites de música a mesma canção cantada pela banda Mundo Livre S/A, assim como por Lucinha Bastos.

É praticamente impossível ouvir tudo que é dito em “Lourinha Americana”, uma letra que trata de questões de identidade, de exclusão, racismo, e não tecer conexões com o que temos visto na atual política mundial, especificamente naquela que tem sido levada a cabo pelo Presidente dos Estados Unidos. Embora a narrativa da canção se dê no nível do pessoal, é possível perceber tais questionamentos de maneira mais ampla e abrangente ao se analisar, por exemplo, o comportamento do Lourinho Americano que ocupa a Casa Branca. 

Não é preciso ir muito longe, para perceber que o Lourinho Americano tá querendo esculachar o mundo, com seus tarifaços, perseguições contra imigrantes, comunidade LGBTQIA+, mulheres e todos aqueles e aquelas que não ousam se calar. Para ele e seus asseclas, se você for neguinho, bem neguinho, asiático, brasileiro ou latino, na América você não pode ficar. A denúncia de discriminação racial apontada na canção, em nada se distancia daquela pela qual passam milhares de pessoas que deixam seus países em busca de dias melhores em outras pátrias, mas tudo o que conseguem é a humilhação e o desrespeito. “América, América, América”! Mestre Laurentino tem muito a nos dizer. Ouçamos com a atenção que o poeta merece. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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