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Luis Cosme Pinto

Luis Cosme Pinto é carioca de Vila Isabel e vive em São Paulo. Tem 63 anos de idade e 37 de jornalismo. As crônicas que assina nascem em botecos e esquinas onde perambula em busca de histórias do dia a dia.

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João, o Professor

Falta um ano pra Copa, nossa seleção não tem treinador e a CBF quer lançar uma camiseta vermelha

CBF (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Carlo Ancelotti, o treinador italiano do Real Madrid, não vai mais comandar a seleção brasileira.

Gostei. Acho que não vale o salário anunciado pela imprensa esportiva: 5 milhões de reais. Tem cabimento pagar um salário desses? Acredito mesmo que dinheiro demais faz mal. Arrivederci, Ancelotti.

Jornalistas apostam que chegou a vez de Jorge Jesus. O técnico português treinou o Flamengo há alguns anos e até hoje a torcida sonha com a volta dele.

Nunca tivemos treinador estrangeiro na seleção e também jamais enfrentamos tamanha bagunça. Nossa seleção tem dois jogos mês que vem e ainda não sabemos quem vai comandar o time.

Seja pelas terríveis denúncias envolvendo a CBF, pelo futebol chinfrim ou pelo jejum de Copas - lá se vão 20 anos - nossa seleção, antigo orgulho nacional, vive um momento melancólico. Virou um suplício assistir 90 minutos do jogo feio e triste. No último, contra a Argentina, perdemos de 4 x 1, fora o tango.

Estava ruim com o Tite, piorou com o Diniz, afundou com o Dorival e sabe-se lá o que vem aí.

Não me assusta e tampouco me anima. Em algumas Copas que conquistamos saímos desacreditados.  Foi assim em 1970, quando o time na reta final da preparação, com Pelé, Jairzinho e Rivelino, sofreu para empatar com o Bangu. Meses depois, no México, ganhou todos os jogos e conquistou o tri.

A caminhada até o tetra também teve seus tropeços. Levamos um passeio da Bolívia e a classificação só veio no último jogo. Pouco depois ganhávamos a Copa de 1994, nos Estados Unidos, com uma dupla genial: Romário e Bebeto.

Também houve o oposto. Brilhamos nas eliminatórias, estufamos o peito e voltamos pra casa derrotados.

A surpresa, o acaso, o improviso são a magia do futebol. Por isso é um erro supervalorizar os treinadores, como se dependesse só deles ganhar ou perder.

Não são tão decisivos nas vitórias e nem tão culpados nas derrotas.  

A cartolagem discorda. Em seis rodadas do Brasileirão, cinco técnicos foram demitidos.

O craque do time perde o gol cara a cara com o goleiro, o artilheiro bate o pênalti na arquibancada, o zagueiro entra em campo nervoso porque o filho tirou nota baixa e é expulso, nada isso é culpa do técnico.

Da mesma maneira, por mais competente que seja, o “professor” não inventa um drible, um frango ou interfere no VAR. 

Ainda falta um ano pra Copa. Que o nosso time vai mal ninguém duvida, mas também é verdade que poucas seleções têm uma quantidade tão grande de excelentes atacantes: Vini Jr, Raphinha, Rodrygo, Endrick, Estevão, Luiz Henrique, Igor Jesus, Pedro, Yuri Alberto, Vitor Roque (esqueci algum?). Com um ataque desses bem entrosado, nem precisamos de defesa.

O desafio é responder à pergunta que atormenta todos os torcedores. Por que esses ótimos atletas brilham em seus times e se apagam na seleção?

Na história da nossa seleção tivemos treinadores geniais. Um dos melhores foi um gaúcho bonitão e de pavio curto: João Saldanha.

Depois de ajudar a formar a seleção do tri, “O João Sem Medo” se tornou o comentarista mais querido do Brasil. Inteligente e combativo, ele azucrinava cartolas e treinadores, que obrigavam os atletas a ficarem muitos dias na concentração: “se concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária era campeão. “

Sem medo e com humor, João sempre defendeu a democracia e o bom futebol.

Viu o fim da ditadura e morreu em 1990, cobrindo a Copa da Itália.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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