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Hélio B. Costa

Hélio B. Costa, 77, Bacharel em Ciências Econômicas (Escola Superior de Economia de Praga, Rep. Tcheca), Mestre em Planejamento Econômico (Universidade de Estado em Antuérpia, (Bélgica), Doutor em Ciências (USP). Pesquisador em estudos socioeconômicos, foi professor universitário, consultor de políticas públicas, planejamento, projetos de transportes/ logística e mobilidade urbana. Ocupou cargos de direção no setor público e na academia.

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Isto é a velha luta de classes, estúpido! Que situação essa, a nossa!

O momento atual exige o embate, o contraponto, a oportunidade de ir à população e demonstrar quem é contra as políticas progressistas. É hora de mobilizar

Jerônimo Rodrigues, Lula e Janja (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Ao ser acusado de ter inventado a luta de classes, Marx respondeu que não fora ele a “inventá-la”, mas que ela fora, desde sempre, a força motriz da História, pois desde a antiguidade, ela se manifestou em todos os modos de produção, do escravocrata ao capitalismo.

Isso parece ser o que acontece hoje na sociedade brasileira. É fato que essa luta, em dada conjuntura, pode se dar de forma amena, até mesmo com alguma modalidade de aliança de classes, ou se dar de forma mais acirrada, em uma situação de crise, quando as “classes” se veem despojadas de certos privilégios ou de perda de poder. A sociedade é constituída de vários segmentos sociais que se identificam e formam as duas classes mais importantes: a dos detentores de poder e a daqueles que são a grande maioria, os despossuídos de poder. Para simplificar, na conjuntura brasileira atual, vamos dizer que existam, de um lado, a oligarquia econômico-financeira, e, de outro, a grande maioria da população, assalariados de todos os segmentos de trabalhadores e segmentos de classe média.

O que vemos hoje, escancarada a falência da chamada Frente Ampla, que foi importante para a eleição de um governo que derrotou a continuação da extrema direita em 2022, é o acirramento da luta ideológica dos dois lados polarizados da política brasileira em nível macro. O adiantamento do cenário eleitoral de 2026 é o reflexo dessa luta. E por que isso pode ser caracterizado como uma luta ideológica de classes? Porque, na realidade, do que se trata é a luta por dois modelos (em nível geral) de governo: de um governo do que poderíamos chamar de progressista, porque carrega a preocupação com os interesses mais gerais da população e, de outro, a preservação dos interesses de uma classe defensora dos valores do capital (de forma ampla, dos interesses da classe mais rica, que não querem ceder em nada, em favor de uma mínima repartição de renda).

As evidências desse confronto podem ser percebidas, nos últimos tempos, pela luta travada pelo governo Lula no Congresso Nacional para aprovar pautas progressistas em favor de uma política redistributiva da renda. O fator a culminar esse confronto foi a aprovação do veto ao aumento do IOF ocorrido na semana passada. Ficou aí estampado o acirramento da “luta de classes” da parte daqueles que comandam o capital financeiro da nação, coadjuvado pelo seu “exército mercenário” da grande maioria dos componentes do Congresso Nacional. Isto que foi encarado e tido como uma derrota do governo Lula e, portanto, uma derrota da grande maioria dos brasileiros é o que escancara essa verdadeira luta de classes.

O que move o desenrolar dessa luta, como em todo combate, é a correlação de forças de cada lado. É essa correlação de forças que definirá 2026. De um lado, temos o famoso 1% da população brasileira, uma minoria, portanto, representada pelos super-ricos, que, em tese, não pagam impostos e detêm a maior parte da renda nacional. De outro, a grande massa da população, representada pela classe trabalhadora e segmentos de classe média e demais segmentos sociais. Para simplificar, a primeira é o capital financeiro e industrial, representado pelo chamado mercado. O outro, os assalariados e despossuídos de toda sorte.

Estamos diante de dois agrupamentos que se digladiam pelos ganhos da renda nacional. Na presente conjuntura, o segundo grupo está representado pelo governo Lula na sua plataforma de governo em favor de políticas públicas minimamente coerente aos anseios dessa população. De outro, a oligarquia rentista que não quer ceder em nada para um mínimo de amenização da situação de desigualdade social. À sempre acusação do mote “nós contra eles”, da parte dos rentistas, hoje, fica evidente, que o mote deveria ser “eles contra nós”. Na correlação de forças, simplificadamente, temos o seguinte resultado: da parte deles, o poder de coação do capital e o domínio de seu braço parlamentar, já que tem a maioria dos congressistas. Mas de outro, o governo tem a seu favor um arsenal grande de conquistas e entregas a apresentar à Nação: economia em crescimento, uma situação de quase pleno emprego, políticas públicas em funcionamento com efetividade e muito mais.

O que falta e como conduzir essa luta para reverter a situação em favor do governo e, portanto, em favor da grande maioria da população? Nesses últimos dias, o governo tem se esforçado em fazer o embate correto: acionamento do STF em relação à constitucionalidade do veto ao IOF. Tem denunciado a insensatez dos chamados bilionários (as 150 mil pessoas) em não ceder um pouco que seja, ao benefício de milhões (o presidente da Câmara foi saudado como “herói” em recente jantar que reuniu o BBB – bilionários, banqueiros e...). Todas essas ações precisam ser diversificadas e multiplicadas. O famoso mercado não é uma entidade etérea, ela é composta por nomes e pessoas facilmente identificáveis. Quiçá não seria oportuno dar a conhecer seus nomes?

Entretanto, esse confronto deve ser feito com sabedoria e, a nosso favor, o presidente Lula é um craque na articulação dos atores sociais e políticos. Ele, um negociador por excelência, saberá conduzir essa luta. A luta política é feita em uma arena em que se digladiam atores sociais com valores ideológicos e interesses difusos. Essa luta tem que ter estratégia e torna-se necessário dosar táticas de negociação e conciliação, quando a situação permitir e táticas de confronto, mesmo que duros, quando for preciso. O momento atual exige o embate, o contraponto, a oportunidade de ir à população e demonstrar quem é contra as políticas progressistas. É hora de mobilizar. É hora de exibir os feitos desse terceiro mandato, alcançados a despeito da vigência dos 15% de juros, a despeito de todas as dificuldades junto ao Legislativo, a despeito da oposição da direita e da extrema direita, a despeito do “mercado” e, em suma, a despeito de todos os problemas que foram enfrentados.

É preciso preparar, de antemão, os confrontos de 2026, porque é disso que se trata.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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