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Bepe Damasco

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Governo vai ter que combinar combatividade e sabedoria para romper o cerco

Qual o valor que o Centrão, os comentaristas e articulistas da mídia comercial e os engravatados do mercado dão a este ótimo ambiente econômico? Nenhum

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Saiu na sexta-feira (27) o resultado da PNAD Contínua do IBGE. Os 6,2% de desemprego no trimestre encerrado em maio são a menor taxa para o período desde o início da série histórica da pesquisa, há 13 anos. Mas sabe qual a importância que isso tem para a Faria Lima, as Organizações Globo e a grande maioria do Congresso Nacional?

Nenhuma.

A inflação segue em trajetória de queda, os preços dos alimentos estão cedendo, o dólar está cotado a menos de R$ 5,50, o PIB contraria os analistas do mercado e sobe como em poucos países do planeta.  No entanto, advinha qual o valor que o Centrão, os comentaristas e articulistas da mídia comercial e os engravatados do mercado dão a este ótimo ambiente econômico?

Nenhum.

Fora os avanços econômicos, o governo exibe vários programas sociais exitosos. Assim, só restou para a direita, a extrema-direita e a imprensa comercial apelar para chavões alarmistas, como "desequilíbrio fiscal", "estrangulamento fiscal" e "apagão fiscal"

E dane-se se isso tem algum amparo na realidade. 

A revogação do decreto do governo sobre o IOF, por parte do Congresso Nacional, leva a três conclusões óbvias:

  1. Deputados e senadores sabem que Lula tem muito para mostrar na campanha pela reeleição e querem forçar o governo a sagrar seu coração eleitoral, que são os investimentos e programas sociais. A conta deles é simples: sem o IOF, só vai restar ao governo cortar na carne em saúde e educação, por exemplo.
  2. A cúpula do Congresso rompeu, de cabeça pensada, os canais de diálogo e negociação com o governo. Qualquer proposta pregando o diálogo padece, portanto, de vício de origem. É impossível negociar com quem não quer negociar.
  3. A direita já decidiu que Tarcísio de Freitas é o seu candidato e a tendência é que, pelo menos institucionalmente, partidos como União Brasil, Progressistas, Republicanos, etc, que têm ministérios no governo, não apoiarão a candidatura à reeleição do presidente Lula. 

De nada adiantarão convites para viagens ao exterior na comitiva presidencial, almoços, jantares e conversas que atravessam horas a fio. Na cabeça dos luminares do Centrão, a fórmula para vencer a eleição passa por sabotar o governo, inclusive engavetando projetos de forte apelo popular, como a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil.

A saída, então, passa pelo rompimento com o Congresso? De jeito algum.

É preciso tensionar as bancadas com mais realizações, manter canais com lideranças intermediárias da Câmara e do Senado, convencer o presidente Lula a se encontrar de forma mais frequente com deputados e senadores e escalar mais ministros para a interlocução com eles.

Não há a menor garantia de que essa ofensiva dará certo, mas o afastamento completo seria um caminho perigoso.

Por outro lado, o governo não pode abrir mão da luta política, deixando claro nesta queda de braço quem defende os pobres e quem está ao lado dos ricos. Fica a sugestão para o ministro Sidônio Pereira, da Secom: por que que não uma campanha com esse propósito?

Não dá para entender porque o presidente Lula não ocupou até agora uma cadeia de rádio e TV para explicar didaticamente a importância do pequeno aumento do IOF para a justiça tributária e o equilíbrio das contas públicas.

E, por fim, com todos os riscos de segurança, que podem ser perfeitamente mitigados pela equipe do presidente com o apoio dos movimentos sociais, não terá chegado a hora de Lula ir ao encontro do povo? Não em eventos chapa branca, mas em manifestações amplas de prestação pública de contas de seu governo.

Ah, mas isso é antecipação de campanha, dirão muitos. Mas, e daí? Os adversários já colocaram o bloco na rua. Há momentos na política em que o excesso de moderação é péssimo conselheiro.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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