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Leonardo Attuch

Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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Eduardo Moreira: um udenista na imprensa brasileira

2026 se aproxima e cada ator passa a assumir mais claramente as suas posições

(Foto: Reprodução )

O empresário Eduardo Moreira, fundador da plataforma de cursos ICL e do canal ICL Notícias, publicou, na noite de ontem, um vídeo em sua conta no Instagram, com ataques ao Brasil 247 e a mim diretamente. O vídeo revela traços da sua personalidade, como deslealdade, egocentrismo e grande capacidade de dissimulação, mas o que importa é analisar o seu significado político.

O vídeo é uma resposta a um trecho de uma transmissão da TV 247, realizada no dia de ontem, em que eu respondi a um questionamento de um telespectador sobre a questão ICL. No vídeo, explico as motivações da campanha que parece estar sendo liderada por seu meio de comunicação contra sites do campo progressista – e em especial contra aqueles que, de forma mais aberta, defendem a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026, como faz o Brasil 247 neste domingo, em seu editorial. Abaixo, o vídeo:

O aspecto central da campanha de Eduardo Moreira contra os sites progressistas reside na questão do financiamento de suas atividades. Essa campanha já passou por três etapas: (1) os sites de esquerda não seriam independentes por receberem recursos publicitários de secretarias de comunicação, (2) os sites de esquerda seriam contra o PL 2630 (o das fake news) por receberem publicidade programática ou participarem de programas de fomento ao jornalismo por parte das big techs e, mais recentemente, (3) sites de esquerda estariam participando de uma suposta “farra das bets".

Esta campanha poderia ser apenas uma arma concorrencial de um empresário que se vende no “mercado do bem” como puro e superior aos demais progressistas por supostamente ter formas limpas de financiamento, como seus cursos e treinamentos sobre empreendedorismo e mercado financeiro, e a rentabilidade da sua própria fortuna pessoal, depois da sua conversão na estrada de Damasco. E como o bolo publicitário da esquerda é menor do que o da direita no campo da comunicação, a experiência já me ensinou que, neste campo, a competição muitas vezes se mostra até mais desleal e predatória do que no universo da imprensa comercial.

Entretanto, o movimento de Eduardo Moreira também deve ser analisado politicamente. Quando se questiona qualquer ator político ou da esfera pública a partir de suas fontes de financiamento, e não por seu programa ou sua linha editorial (no caso dos meios de comunicação), trata-se de uma linha de ação totalmente udenista. E a UDN, como todos aqueles que têm mais idade e experiência sabem, sempre foi uma linha auxiliar da direita mais tradicional, a partir da exploração do moralismo da sociedade.

O próprio Partido dos Trabalhadores, que venceu cinco eleições presidenciais desde 2002, já foi atacado inúmeras vezes por suas fontes de financiamento: a máfia do lixo, o jogo, o caixa dois dos ônibus, o dinheiro das empreiteiras, dos “campeões nacionais”, os “dólares de Cuba” e até mesmo as doações feitas regularmente pelo “caixa um” chegaram a ser criminalizadas durante a operação Lava Jato.

Tudo isso deixa claro que não existe udenismo de esquerda e que todos aqueles que se colocam como a palmatória do mundo, mais cedo ou mais tarde, acabam por ser expostos em suas contradições. Foi assim com a chamada República de Curitiba e será também assim com os udenistas da imprensa brasileira, como parece ser o caso de Eduardo Moreira. Aliás, seu discurso recente sobre defender o que é “certo” lembra muito o “fazer a coisa certa sempre” do ex-juiz e hoje senador Sergio Moro.

Esse discurso, moralista e supostamente independente, também irá desaguar em algum local nas eleições presidenciais de 2026. E até agora não há sinais claros de que será na reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje encarna a ideia de Brasil soberano, numa quadra histórica em que o Brasil é um alvo claro do chamado imperialismo. Obviamente, cada veículo de comunicação é livre para escolher o que fará em 2026, mas essa também parece ser uma das motivações da campanha organizada contra os sites progressistas e que, curiosamente, hoje parte de “dentro” e não da direita tradicional.

Digo “dentro” entre aspas porque muitos comentários no vídeo que postamos sobre o tema ICL cobraram união no campo progressista. É aí que se colocam as questões centrais. Será que estamos mesmo no mesmo barco ou no mesmo campo? Será que os projetos políticos defendidos pelo veículo de comunicação agressor e pelos veículos de comunicação agredidos são realmente coincidentes? Se o que se busca é união, isso deve ser cobrado de quem atira pedras – e não de quem até agora as recebia silenciosamente.

Por fim, cabe ainda mencionar dois aspectos do vídeo de Eduardo Moreira. Num deles, que revela muito sobre sua personalidade, marcada pelo egocentrismo, pela ingratidão e pela deslealdade, ele revela o valor recebido pelo Brasil 247 ao longo de alguns anos pelo comissionamento na venda de seus cursos e se coloca como uma espécie de mecenas e benfeitor do jornalismo independente. Na realidade, a relação comercial era outra, em que os canais de distribuição, no caso os sites progressistas, eram remunerados exatamente por levar ao público os seus produtos – o que ele aparentemente vê não como um benefício que recebeu, numa relação de reciprocidade, mas como um favor que fez à mídia de esquerda.

Em outro aspecto, o novo Carlos Lacerda da imprensa brasileira resgata notícias do passado, sobre a operação Lava Jato, de uma ação que foi já foi arquivada pelo Poder Judiciário face à sua imaterialidade. Isso revela que Eduardo talvez tenha que voltar novamente à estrada de Damasco para concluir sua conversão ao bom-mocismo. Até para que, com seu lavajatismo intrínseco, não volte a chamar o presidente Lula de “presidiário” nem a participar de passeatas “fora Dilma, fora PT" ou a organizar protestos contra tudo e contra todos, que podem desaguar num novo momento de desestabilização política do Brasil soberano.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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