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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Desdolarizar?

Lula, Dilma e Putin defendem redução do uso do dólar nos Brics, enquanto Trump reage com ameaça de tarifa a países que seguirem essa política

Notas de dólar (Foto: THOMAS WHITE / REUTERS)

Os Estados Unidos saíram vitoriosos da Segunda Guerra Mundial. Naturalmente, o dólar passou a ser a moeda universal. Conforme a economia norte-americana se consolidou como a mais forte ao longo das décadas seguintes, a dolarização da economia mundial se fortaleceu.

A situação recente no mundo voltou a questionar a ideia da dolarização da economia global. Lula defendeu a adoção de medidas para enfraquecer o uso do dólar no comércio internacional.

“Eu acho que o mundo precisa encontrar um jeito de que a nossa relação comercial não precise passar pelo dólar. Quando for com a Argentina ou com a China, não precisa”, disse ele. “Ninguém determinou que o dólar é a moeda padrão. Em que fórum foi determinado?”.

Segundo ele, a substituição do dólar no comércio internacional “é uma coisa que não tem volta, vai acontecer até que seja consolidada”. A proposta é amplamente defendida por alguns países dos BRICS, inclusive pela Rússia.

Vladimir Putin, na mensagem que enviou à reunião dos BRICS, defendeu o aumento do uso de moedas locais no comércio entre os países do bloco.

Donald Trump, por sua vez, acusou o golpe, pois trata-se de um dos temas que mais o incomodam: a desdolarização. Ele afirmou que os países que se alinharem ao que chamou de “políticas antiamericanas” dos BRICS pagarão uma tarifa adicional de 10%.

A presidenta do Banco dos BRICS, Dilma Rousseff, afirmou que vê sinais de ampliação do uso de moedas em transações comerciais. Ela argumentou que a hegemonia do dólar implica no fornecimento de moedas para o restante do mundo, o que resulta no enfraquecimento do processo de industrialização.

“Como você fornece dólar para o resto do mundo?”, diz Dilma. “Você incorre em déficit em conta corrente. Ao incorrer em déficit em conta corrente, você fornece dólar para o resto do mundo e tem um benefício. Qual é o benefício? Você financia a custo bastante baixo seus déficits: um em conta corrente e o déficit fiscal. Mas você se torna um país, como os EUA se tornaram, desindustrializado. Você perde a sua indústria”, conclui ela.

“Estou vendo também uma busca por segurança”, prossegue Dilma. “Ninguém querendo sofrer as consequências do lado errado. Então, acho que está havendo muita diversificação". “Há um movimento dos países de valorizarem as transações comerciais em moedas próprias".

Esse é o caminho para chegar até uma desdolarização plena, o que significaria a criação de uma moeda própria, alternativa ao dólar. O que teria que se dar em uma outra comunidade, neste caso, os BRICS.

Os BRICS têm como uma de suas bandeiras exatamente reduzir a hegemonia do dólar como moeda quase oficial nos intercâmbios comerciais. Foi no momento da conclusão da importante reunião, realizada no Rio de Janeiro, que Lula fez essa declaração.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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