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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Atenção novo PT: modelo chinês reduz jornada de trabalho e aumenta salário no confronto com modelo neoliberal

O modelo chines é qualitativa e quantitativamente superior ao modelo econômico americano e ocidental, baseado na adoção de um keynesianismo

(Foto: Alessandro Dantas)

A supremacia econômica que a China está construindo e que leva o presidente Donald Trump a punir quem se aproxima dela por meio dos BRICS, novo potência global, decorre do fato de que os chineses, orientados pela revolução socialista que realizaram em 1949, sob comando de Mao Tsé Tung, é pró-trabalhadores, antes de ser pró-capital.

O modelo chines é qualitativa e quantitativamente superior ao modelo econômico americano e ocidental, baseado na adoção de um keynesianismo para os países imperialistas e de um marginalismo econômico para a periferia capitalista.

Essencialmente, a diferença do modelo chinês para o anglo-saxão é a de que ele se sintoniza com a demanda geral dos trabalhadores no atual estágio histórico, dominado pela ciência e tecnologia a serviço da produtividade que, com discurso da cooperação internacional, favorece a redução da jornada de trabalho com aumento do salário real.

Eleva, portanto, o poder de compra dos trabalhadores e melhora sua qualidade de vida.

Age ao contrário do capitalismo ocidental, que adota a modalidade perversa da mais valia absoluta e da mais valia relativa como fatores de intensificação da superexploração do trabalho com redução do salário, de um lado, e superconcentração de capital, de outro.

A mais valia absoluta defende o princípio neoclássico de que a remuneração do trabalho corresponde à produtividade marginal do trabalho, ou seja, sem nenhum ganho real; o salário é custo e não renda; portanto, o ideal do capital é redução do salário para diminuir custo em nome do combate à inflação.

Pior ainda é o critério capitalista da mais valia relativa, que, graças ao acréscimo da tecnologia como fator de produção reduz oferta de trabalho, estica jornada de trabalho e diminui salário para potencializar ao máximo a superexploração e a sobreacumulação de capital.

É por isso que com o acirramento da contradição entre capital e trabalho, os operários defendem preferencialmente a redução da jornada com aumento dos salários, situação favorecida pela ampliação tecnológica e pela inteligência artificial colocada a serviço do aumento da produção e da produtividade.

NOVA REVOLUÇÃO DO TRABALHO CHINESA

A pregação chinesa – e a dos BRICS – é oposta: aumento da cooperação internacional e fim do unilateralismo capitalista de guerra que requer ampliação da oferta monetária para sustentar a indústria armamentista, cujo efeito é concentração de renda e aumento da desigualdade social em escala global crescente.

A estratégia chinesa é a de elevar a produtividade que reduz a jornada de trabalho, com aumento de salário, com consequente ampliação do consumo, assegurando a supremacia econômica da China, na oferta abundante diante da demanda global a custo mais barato.

O desemprego, no cenário chinês, é superado pela supressão do marginalismo econômico capitalista, que se ancora na mais valia absoluta e na mais valia relativa, que intensifica, ainda mais, a superexploração capitalista.

JOGO OPOSTO DE TRUMP

Donald Trump, que tentou seguir o marginalismo, com sua guerra tarifária, deu com os burros n'água e mudou o rumo para o keynesianismo velho de guerra.

Elevou a oferta de moeda na circulação capitalista, para:

1 - diminuir os juros que impactam a dívida;

2 – elevar os preços por conta do aumento da demanda;

3 – reduzir os salários, pela lei da oferta e da procura, determinada pelo aumento da quantidade de moeda circulante, e;

4 - perdoar dívida contratada a prazo pelos capitalistas, na tarefa de investir.

É nesse momento, com a conjugação simultânea desses quatro fatores, que Trump, sob orientação de Keynes, aumenta a eficiência marginal do capital, ou seja, o lucro dos empresários.

Fica comprovada a pregação do famoso economista inglês, segundo a qual a única variável econômica verdadeiramente independente no capitalismo é o aumento da quantidade da oferta de dinheiro em circulação pela autoridade monetária.

Ao jogar mais 3,5 trilhões na dívida pública, que já alcança 140 trilhões de dólares, o presidente americano aposta na economia de guerra, para tentar vencer a China, enquanto por essa estratégia aprofunda concentração de renda e desigualdade social, com intensificação da mais valia absoluta e mais valia relativa, que amplia jornada de trabalho e redução de salário.

Pior dos mundos para os trabalhadores.

TRUMP X LULA

Donald Trump, portanto, está aumentando a dívida, mas reduzindo o seu custo, com redução dos juros, enquanto, no Brasil, o governo está prisioneiro da dobradinha Banco Central-Faria Lima, que corta gastos sociais, que puxariam a demanda global sob pretexto falso de combate à inflação, enquanto fomenta o rentismo jurista.

A estratégia econômica vigente obedece ao modelo ocidental capitalista imposto pelos Estados Unidos, enquanto, ele mesmo, os Estados Unidos, seguem terapia oposta, como acaba de mostrar o presidente Trump, quando eleva em 3,5 trilhões os gastos públicos, aprovados pelo Congresso, para tocar a economia de guerra.

Fica claro que o gargalo que sufoca a economia brasileira é a obediência cega aos mandamentos de Washington, os quais Washington, mesmo, nega-se a cumprir, como faz Trump.

NOVA POLÍTICA ECONÔMICA

Portanto, se o governo Lula quiser desafogar a vida das empresas, especialmente, das micro e pequenas empresas, candidatas à inadimplência, responsáveis por 90% do total dos estabelecimentos e de mais de 40% do PIB, bem como 80% da oferta de emprego, segundo o Sebrae, tem que mudar a política econômica.

Com a nova estratégia trumpista, chegou-se, na periferia capitalista, ao estresse total o tripé econômico liberal, que estabelece meta inflacionária irrealista de 3% ao ano, obrigando o Ministério da Fazenda, com sua promessa de alcançar déficit primário zero, degolar os gastos sociais para sustentar os gastos financeiros.

INCOMPATIBILIDADE CONTRADITÓRIA

É uma contradição patente: o governo discursa no Congresso em favor de cobrança de impostos dos ricos para dar mais aos pobres, ao mesmo tempo em que, com o arcabouço neoliberal, obedece a estratégia econômica que tira dos pobres para dar aos ricos em forma de juros, subsídios e sistema tributário regressivo.

Tal orientação leva a economia ao tempo dos neoclássicos ultra neoliberais, no século 19, em que a remuneração do salário corresponde a sua produtividade marginal, ou seja, nenhum ganho real.

Contraste com a grande conquista social do presidente Lula, de historicamente superar o salário correspondente a apenas a produtividade marginal.

No poder, Lula e o PT valorizaram o salário com reajuste pela inflação mais percentual de crescimento do PIB nos dois anos anteriores.

Isso produziu uma escala crescente de valorização do poder de compra de todas as categorias salariais, ao lado das conquistas sociais, asseguradas na Constituição, pautada pela CLT getulista.

GOLPE MARGINALISTA NEOLIBERAL

O modelo neoliberal, golpista, a partir de 2016, restaurou, paulatinamente, a produtividade marginal como regra essencial do salário.

Os neoliberais, maioria no Congresso, aprovaram o fim da regra lulista e impôs outra regra mais restritiva: reajuste pela inflação restrito a 2,5% do crescimento da receita.

Como as receitas não crescem nesse ritmo, porque o fim da regra de valorização salarial impõe insuficiência de demanda, o massacre social se intensifica, produzindo impopularidade lulista.

Os empresários, diante da queda do consumo, frente à restauração do salário correspondente à produtividade marginal, vão ao governo pedir isenção fiscal para compensar a queda da taxa de lucro.

Lula, então, é obrigado a tirar dos pobres para dar aos ricos, negando seu discurso de classe.

Do contrário, os empresários reduzem a produção e elevam os preços, produzindo escassez de oferta e inflação, que complicam a reeleição lulista em 2026.

PT E O DESAFIO DA ESCALA 6X1

Nesse contexto, a superexploração - aumento da jornada com desemprego e redução dos salários - acirra as contradições, com aumento do movimento dos trabalhadores pela escala de 6x1 para a jornada de trabalho.

É a nova motivação política do proletariado no cenário do avanço científico e tecnológico a serviço da produção e da produtividade que o leva à defesa da redução da jornada de trabalho, pela melhor qualidade de vida, contra a superexploração e superacumulação capitalista que leva à crise da redução da taxa de lucro.

O modelo chinês é atrativo aos trabalhadores, porque diminui a mais valia relativa, para favorecer redução da jornada de trabalho, com valorização dos salários, deixando o modelo capitalista americano sem condições de competitividade e alvo de repúdio popular em escala crescente.

O desafio do novo presidente do PT, portanto, é engajar-se, imediatamente, na campanha pela redução da jornada de trabalho como principal tarefa para alinhar-se organicamente os trabalhadores ao presidente Lula.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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