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Reynaldo José Aragon Gonçalves

Reynaldo Aragon Gonçalves é jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos em Comunicação, Cognição e Computação (NEECCC) e do INCT em Disputas e Soberania Informacional.

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Alcolumbre e Motta não nos representam

A sabotagem institucional contra a soberania brasileira

Hugo Motta e Davi Alcolumbre (Foto: Andressa Anholete/Agência Senado)

Davi Alcolumbre e Hugo Motta não são moderados nem neutros: são operadores centrais de um projeto que quer destruir o STF, travar o governo Lula e entregar o Brasil às big techs e ao capital estrangeiro. O golpe de 2026 já começou — e está sendo conduzido de terno, dentro do Congresso. Está na hora de dizer com todas as letras: essa gente é inimiga da soberania nacional.

O golpe silencioso tem nome, rosto e comando.

Há um golpe em curso no Brasil — e ele não se dá por tanques nas ruas, mas por acordos nos bastidores, notas frias, e omissões calculadas. Ele não veste farda, mas terno. Não usa fuzil, mas assinatura digital. O nome desse golpe é entreguismo institucional e seus rostos mais visíveis neste momento são Hugo Motta e Davi Alcolumbre, presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. O que vimos após os ataques do ex-presidente norte-americano Donald Trump ao Brasil — com uma tarifa de 50% contra produtos brasileiros e insultos diretos ao Supremo Tribunal Federal — não foi apenas uma covardia retórica, mas a confirmação de que parte significativa da cúpula do Legislativo está comprometida com um projeto de sabotagem nacional.

A nota conjunta publicada por Motta e Alcolumbre, quase 24 horas depois da agressão de Trump, não mencionou uma única vez os ataques diretos ao STF, nem tampouco a violação explícita da soberania brasileira. A referência genérica a "diálogo" e "respeito" revelou-se mais um gesto de pacificação diplomática com o agressor do que um ato de defesa do país. E isso não é um acaso: é uma escolha política. O silêncio calculado diante do ataque a Alexandre de Moraes — ministro do STF que lidera a tentativa de regulação das plataformas digitais — tem uma função muito clara: proteger os interesses da extrema-direita digital, das big techs transnacionais e dos grupos empresariais que se articulam para desestabilizar o governo Lula e inviabilizar qualquer projeto de soberania popular.

Não é a primeira vez que se tenta operar no Brasil um golpe por dentro. Diferente de 1964 ou mesmo de 2016, o golpe contemporâneo é híbrido, psicológico, judicial, econômico e informacional. E seus agentes principais não estão apenas nos porões do Estado, mas em suas presidências: o Congresso Nacional hoje é liderado por homens que atuam em consonância com os interesses de Washington, Wall Street e Vale do Silício. Motta e Alcolumbre não apenas não representam o povo brasileiro, como representam seus algozes: são correias de transmissão dos interesses que hoje financiam e articulam ataques à institucionalidade brasileira com o objetivo de frear o protagonismo do Brasil no Sul Global, esvaziar o papel do STF como ator regulador do ecossistema digital, e construir um ambiente político propício à volta de um outsider reacionário ao Planalto em 2026.

É preciso dizer sem hesitação: Alcolumbre e Motta não são líderes institucionais moderados. São operadores centrais de um projeto golpista travestido de normalidade. E a prova disso está justamente em sua postura diante da crise mais grave da diplomacia brasileira desde a redemocratização. Ao não defenderem o STF, ao não nomearem o agressor, ao se omitirem diante de uma tentativa de desestabilização do país por parte de um agente externo ultradireitista como Trump, eles se colocam como parte ativa da engrenagem internacional que tenta, a todo custo, impedir o avanço de um projeto democrático, popular, progressista e soberano no Brasil.

Não há mais espaço para ilusões. O Brasil vive hoje um novo capítulo de sua guerra de independência — e seus inimigos estão infiltrados no centro da institucionalidade.

A nota covarde: sintoma do projeto de rendição.

A nota divulgada por Hugo Motta e Davi Alcolumbre no dia 10 de julho de 2025 é um documento que ficará para a história — não como gesto de defesa da pátria, mas como símbolo da capitulação consciente da cúpula do Legislativo aos interesses antinacionais. Publicada com quase 24 horas de atraso, após uma das mais graves agressões externas ao Brasil nos últimos anos, o texto conjuga uma retórica vazia com uma estratégia sofisticada de apagamento do conflito real. Fala em “reação firme e equilibrada” e em “respeito às normas internacionais de comércio”, mas não menciona Donald Trump, não menciona o STF, não menciona os ataques diretos às instituições brasileiras. É uma nota escrita para não dizer nada — e, justamente por isso, diz tudo.

O silêncio não foi um descuido. Foi uma escolha deliberada. Uma omissão calculada. Alcolumbre e Motta optaram por não mencionar a escalada golpista que vinha sendo construída por Trump desde sua volta ao centro da cena política global — uma escalada que encontrou eco imediato na extrema-direita brasileira e nos setores mais reacionários do Congresso. Ao ignorarem a tentativa de desmoralizar publicamente o Supremo Tribunal Federal, a criminalização simbólica de Alexandre de Moraes e o ataque frontal ao marco civilizatório do Estado de Direito, eles passaram recibo de que não pretendem fazer frente a esse movimento. Ao contrário, estão alinhados a ele.

A nota não defende a soberania nacional. Ela defende o “diálogo comercial”, como se estivéssemos diante de um impasse técnico, não de uma agressão política. E não se trata apenas de linguagem. Trata-se de um gesto ideológico. O vocabulário frio, diplomático e tecnocrático escolhido pela presidência da Câmara e do Senado serve para mascarar um projeto: o de renda institucional ao capital internacional e às big techs, disfarçada de equilíbrio institucional.

A comparação com a reação do Executivo é ilustrativa. O presidente Lula foi direto: chamou o ataque de “arbitrário”, evocou o princípio da reciprocidade e defendeu a soberania econômica e política do Brasil. Já Motta e Alcolumbre se esconderam atrás de palavras ocas, evitando qualquer confronto com os interesses que, de fato, representam: os das plataformas, das finanças globais e dos grupos transnacionais que veem no Brasil um território a ser explorado e nunca um país a ser respeitado.

Mais do que tímida, a nota é cúmplice. Ela não confronta o trumpismo, porque o Congresso Nacional atual foi moldado por ele. A eleição de 2022 consagrou um Parlamento repleto de “outsiders digitais”, financiados por estruturas de desinformação e campanhas nas redes — e é justamente esse ecossistema que o STF, sob a liderança de Moraes, começou a enfrentar com mais firmeza. O que está em jogo, portanto, não é apenas uma questão diplomática, mas o próprio modelo de poder que sustenta a maioria legislativa hoje instalada no país. Motta e Alcolumbre sabem disso — e é por isso que agem como gestores do silêncio, operadores da rendição, cúmplices da sabotagem.

A covardia dessa nota, no fundo, é apenas a ponta visível de um iceberg muito maior: o projeto de sabotagem interna ao Estado brasileiro. Um projeto que não se impõe por tanques ou baionetas, mas por acordos em gabinetes, por omissões públicas e por documentos covardes.

Quem são eles? Porta-vozes do capital e da extrema-direita digital.

Hugo Motta e Davi Alcolumbre não são meros ocupantes de cargos institucionais. Na prática, representam, com fidelidade, um bloco de poder que articula mercado financeiro, big techs, extrema-direita internacional e interesses estratégicos dos Estados Unidos no interior do Congresso Nacional. Não são neutros, nem tampouco “moderados”. São operadores de um projeto claro: impedir o avanço da soberania informacional e popular no Brasil, travar o governo Lula e preparar o terreno para o retorno de uma liderança bolsonarista ou outsider em 2026. A nota conjunta que divulgaram em resposta aos ataques de Trump é apenas a face visível dessa engrenagem: fria, tecnocrática, calculadamente omissa — um gesto político de rendição que escancara suas verdadeiras lealdades.

Alcolumbre e Motta orbitam diretamente duas das frentes parlamentares mais sensíveis aos interesses das plataformas digitais e do capital internacional. A primeira é a Frente Parlamentar Mista da Economia e Cidadania Digital, presidida por Lafayette de Andrada (Republicanos-MG), composta por deputados do PL, União Brasil e Republicanos, com vínculos diretos com empresas como Google, Meta, Amazon, Uber, iFood e Mercado Livre. Essa frente atua sistematicamente contra qualquer iniciativa de regulação das plataformas digitais e foi protagonista na articulação que sabotou o PL 2630 — o chamado "PL das Fake News". O próprio De Andrada chegou a afirmar no plenário da Câmara que a tentativa de regulação brasileira se aproximava do “modelo chinês de censura”, reproduzindo o discurso da extrema-direita digital com verniz liberal.

A segunda é a Frente Parlamentar de Cibersegurança (FrenCyber), liderada por nomes como Esperidião Amin (PP‑SC), Hamilton Mourão (Republicanos-RS), Izalci Lucas (PSDB-DF) e Damares Alves (Republicanos-DF). Essa frente se apresenta como técnica, mas, na prática, atua para blindar juridicamente as plataformas, impedir avanços regulatórios e defender uma lógica de autorregulação digital subordinada aos interesses do Vale do Silício. As conexões da FrenCyber com entidades como Fiesp, Febraban e associações empresariais de tecnologia demonstram que se trata de um braço direto do lobby corporativo travestido de debate técnico.

É nesse ambiente político que Hugo Motta e Davi Alcolumbre constroem sua atuação. Ambos dependem dessas bancadas para sustentar sua influência e articulação interna no Congresso. Nenhum dos dois moveu um milímetro em favor da responsabilização das plataformas pelos conteúdos violentos e golpistas propagados nas eleições e na tentativa de golpe de 8 de janeiro. Ao contrário: permaneceram em absoluto silêncio diante das provas apresentadas pelo STF e pela Polícia Federal. O motivo é simples: sabem que o ecossistema digital de impunidade é o que garante a permanência de boa parte da base bolsonarista e conservadora no Parlamento. Não mexem nisso porque disso dependem — e é isso que os torna parte central do plano de sabotagem institucional.

Alcolumbre, ao longo dos últimos anos, tornou-se uma peça-chave da política econômica liberal. É homem de confiança da Faria Lima. Durante sua presidência no Senado, entre 2019 e 2021, brecou projetos de taxação das grandes fortunas e blindou os interesses dos bancos, fundos de investimento e corretoras. Seus vínculos com o BTG Pactual e a XP Investimentos são conhecidos nos bastidores e garantem a ele o respaldo do mercado como operador discreto, mas eficaz. Já Hugo Motta, político da oligarquia paraibana, membro do Republicanos e figura destacada do centrão digitalizado, preside a Comissão de Orçamento e lidera articulações com União Brasil e PL. Sua postura é sempre funcional à lógica do desmonte do Estado, e sua omissão nas pautas estruturais revela fidelidade aos grupos que o mantêm como articulador principal do orçamento paralelo.

Ambos operam em consonância com a lógica da desinformação digital. Nenhum dos dois defendeu o STF ou Alexandre de Moraes nos últimos episódios. Nenhum endossou publicamente as decisões do Supremo que buscam responsabilizar as plataformas. Nenhum se pronunciou sobre a manipulação algorítmica ou os ataques coordenados às instituições. A explicação é brutalmente simples: eles dependem da continuidade desse sistema para garantir a hegemonia conservadora no Congresso. Não precisarão apoiar abertamente um novo Bolsonaro em 2026 — já estão pavimentando o caminho para ele agora. Blindam as big techs, silenciam diante dos ataques à institucionalidade, travam qualquer tentativa de regulação, impedem o avanço de pautas soberanistas e deslegitimam, por omissão, as instituições democráticas que ainda resistem.

Motta e Alcolumbre não são cúmplices passivos — são agentes ativos do projeto que visa manter o Brasil como colônia informacional e vassalo das elites globais. Se hoje parecem discretos, técnicos, moderados, é porque sabem que o golpe que operam não se dá mais com tanques — mas com hashtags, emendas de comissão e omissões cirúrgicas. E é justamente por isso que precisam ser denunciados com nome, sobrenome e contexto.

O tempo dos fatos: por que o ataque veio agora?

Nada no jogo geopolítico é coincidência. Quando Donald Trump anunciou, no último dia 9 de julho, uma tarifa de 50% sobre as importações brasileiras — incluindo aço e alumínio — e, no mesmo pronunciamento, atacou o Supremo Tribunal Federal, em especial o ministro Alexandre de Moraes, ele não estava apenas fazendo política externa à moda trumpista. Estava cumprindo um papel estratégico na engrenagem global de desestabilização do Brasil soberano. E o momento escolhido para esse ataque não poderia ser mais emblemático: menos de uma semana após a realização da Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro e poucos dias depois de o STF aprovar a responsabilização das plataformas digitais por conteúdos de terceiros, desmontando a blindagem jurídica do artigo 19 do Marco Civil da Internet.

O que essas três movimentações têm em comum? Todas representam avanços do Brasil no fortalecimento da soberania nacional, na ruptura com a tutela dos EUA sobre as infraestruturas digitais e no reforço do Estado democrático frente ao caos algorítmico. A Cúpula do BRICS, realizada nos dias 6 e 7 de julho, teve forte protagonismo brasileiro. Lula articulou uma frente internacional voltada à cooperação sul-sul, à multipolaridade e à regulação democrática das tecnologias emergentes, incluindo inteligência artificial e plataformas. O evento reuniu, no Rio, chefes de Estado e chanceleres de potências que hoje desafiam a hegemonia do Ocidente, como China, Índia, Rússia, África do Sul, Irã e Egito — e consolidou o Brasil como líder diplomático de uma nova ordem internacional em formação.

Poucos dias depois, o Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento do marco do Artigo 19, responsável por eximir as plataformas digitais de qualquer responsabilidade sobre os conteúdos que hospedam. A decisão, aprovada por ampla maioria, com voto decisivo de Alexandre de Moraes, representou um marco civilizatório: pela primeira vez, as big techs seriam responsabilizadas judicialmente pelos danos sociais causados por algoritmos, fake news, discursos de ódio e campanhas de desinformação. Essa decisão é vista como uma ameaça direta ao modelo de negócios das empresas de tecnologia dos EUA, que lucram justamente com a impunidade algorítmica e com a desinformação como commodity política.

É nesse contexto que Donald Trump surge como porta-voz informal desses interesses. Ao atacar o STF e a decisão que rompe com a doutrina neoliberal da “plataforma neutra”, Trump faz eco às narrativas da extrema-direita brasileira, às campanhas das próprias big techs contra a regulação e ao lobby do Congresso Nacional articulado por figuras como Hugo Motta, Davi Alcolumbre, Lafayette de Andrada e Esperidião Amin. O ataque não é apenas econômico — é simbólico, é informacional e é profundamente estratégico. Seu objetivo é fragilizar os atores institucionais que ainda resistem à captura do país: em primeiro lugar, o STF e, em especial, Moraes.

É preciso notar um ponto central dessa operação: Trump não ataca diretamente o presidente Lula. Ataca o STF, o arcabouço legal, a estrutura de regulação e o núcleo institucional que ameaça o poder das plataformas digitais. Isso revela uma compreensão clara da engenharia política em curso. O bolsonarismo internacional — articulado com figuras como Steve Bannon, Elon Musk, Eduardo Bolsonaro e grupos como The Movement — compreende que seu maior inimigo não é apenas o Executivo, mas a construção de um Estado regulador e soberano, capaz de controlar a desinformação e as infraestruturas digitais.

O silêncio de Hugo Motta e Davi Alcolumbre diante desse ataque não é surpresa. Eles integram o mesmo sistema de interesses que Trump representa. O Congresso que hoje presidem — em que a maioria dos parlamentares ascendeu ao poder com base em campanhas digitais turbinadas por impulsionamentos ilegais, fake news e microdirecionamento de mensagens — depende estruturalmente da impunidade digital para manter sua configuração. Esses parlamentares são, em sua maioria, filhos do algoritmo. Um algoritmo treinado por interesses estrangeiros, modelado para destruir a política como instrumento de soberania popular.

Portanto, o momento do ataque não é acidental. Ele responde diretamente a uma sequência de avanços que o Brasil conseguiu em poucos dias: protagonismo no BRICS, avanço jurídico sobre o poder das plataformas, articulação de um novo horizonte de soberania digital. A resposta veio no mesmo idioma de sempre: chantagem econômica, guerra informacional e sabotagem institucional — executada com precisão pela extrema-direita global e aceita com servidão pela cúpula legislativa nacional.

O papel de Motta e Alcolumbre: são parte do plano.

É necessário abandonar de uma vez por todas qualquer ilusão quanto ao papel de Hugo Motta e Davi Alcolumbre no atual cenário político brasileiro. Eles não estão omissos, não estão desatentos, não estão mal-informados. Estão exatamente onde escolheram estar: no centro da engrenagem que articula, desde dentro das instituições, o enfraquecimento do governo, o esvaziamento da soberania nacional e a preparação de um novo ciclo de poder neoliberal-autoritário, controlado por elites estrangeiras e suas filiais locais.

A atuação de ambos não pode ser interpretada como fruto da moderação ou da responsabilidade institucional. Ao contrário, o que os define é a habilidade de operar silenciosamente, em nome de interesses alheios ao povo, utilizando o aparato legislativo como escudo para proteger a desinformação, blindar as big techs e manter o Brasil no papel de satélite dos EUA na disputa tecnológica global.

O silêncio diante dos ataques de Trump ao STF — e, mais especificamente, a Alexandre de Moraes — não foi um descuido. Foi um gesto programado. Alcolumbre e Motta sabem perfeitamente que o STF, ao aprovar a responsabilização das plataformas, tocou no nervo central do poder digital que sustenta a extrema-direita e o capital informacional no país. Atacar Moraes é, portanto, parte de um plano maior: neutralizar o último grande freio institucional às práticas de manipulação política via redes sociais. E ao se calarem, os presidentes da Câmara e do Senado cumprem um papel fundamental: o da legitimação institucional do ataque.

Mas seu papel vai muito além da omissão. Motta e Alcolumbre estão diretamente implicados na blindagem política das big techs. Não apenas se aliaram às frentes parlamentares que defendem os interesses dessas empresas — como a Frente de Cibersegurança e a Frente da Economia Digital — como atuam para impedir qualquer avanço legislativo que confronte o monopólio algorítmico e a desinformação como modelo de governança. Foram coniventes com o esvaziamento do PL 2630. Ignoraram os alertas do TSE e da Polícia Federal sobre os fluxos ilegais de impulsionamento e desinformação durante as eleições. Jamais defenderam a existência de uma regulação robusta do ecossistema digital.

O cálculo é simples: quanto menos regulação, mais poder para os operadores digitais que moldam a política de fora para dentro — e mais controle sobre a narrativa pública contra o governo. Esses operadores — empresas de tecnologia, redes articuladas da extrema-direita, fundos de investimento, think tanks do Atlântico Norte — sabem que o Brasil é o principal laboratório da guerra informacional no Sul Global. E é justamente nesse laboratório que Motta e Alcolumbre atuam como cientistas políticos do entreguismo, manipulando as alavancas institucionais para garantir que o Estado não interfira no curso dos algoritmos, nem questione a lógica do poder digitalizado que os sustenta.

Eles também são, neste momento, agentes de sabotagem política de médio prazo. Sabem que o governo Lula tem um limite de força institucional, e apostam na desidratação progressiva de sua base, no travamento das pautas estratégicas e no desgaste do Executivo até 2026. Seu silêncio diante do trumpismo, sua omissão diante da soberania digital, sua neutralidade ensaiada diante da destruição do STF — tudo isso faz parte de um roteiro de desestabilização calculada, que prepara o terreno para a volta de um outsider alinhado aos interesses da direita global.

Motta e Alcolumbre, portanto, não são apenas peças institucionais. São operadores centrais de um plano transnacional de sabotagem democrática. Agem com discrição, mas com método. Com discurso de estabilidade, mas com prática de erosão. Com aparência de republicanismo, mas com alma de vassalos do poder extraterritorial.

Eles não falharam conosco. Eles sempre estiveram contra nós.

A ilusão acabou: não há neutralidade possível.

É preciso dizer sem meias-palavras: o campo progressista precisa abandonar imediatamente qualquer esperança de que a defesa da soberania nacional poderá contar com a institucionalidade legislativa presidida por Hugo Motta e Davi Alcolumbre. Essa expectativa, alimentada por setores que ainda acreditam em pactos republicanos ou na possibilidade de consenso com elites históricas do atraso, é não apenas ingênua — é suicida. A realidade exige clareza: não há mais neutralidade possível no Brasil de 2025.

Motta e Alcolumbre são peças centrais de um projeto internacional de dominação informacional e enfraquecimento do Estado democrático. Fingem moderação para manter a legitimidade institucional, mas, nos bastidores, operam contra tudo o que representa soberania popular, autonomia tecnológica, justiça fiscal e democratização da informação. Seus compromissos não são com o Brasil, mas com a manutenção de um ecossistema político financiado por plataformas transnacionais, moldado por algoritmos controlados no exterior e estruturado para manter a maioria do povo brasileiro fora das decisões centrais da República.

A crise provocada pelos ataques de Trump ao STF escancarou essa realidade. Enquanto o presidente Lula defendeu publicamente a soberania do país e condenou as ações do ex-presidente norte-americano, os líderes do Congresso se calaram. Não moveram um dedo para proteger a integridade das instituições nacionais. Não fizeram um gesto em defesa de Alexandre de Moraes ou do Supremo. Esse silêncio não é institucional — é estratégico. É o silêncio dos cúmplices, daqueles que sabem que sua permanência no poder depende justamente da destruição dos marcos que sustentam a democracia brasileira.

O Congresso atual foi majoritariamente eleito em campanhas digitais regadas a impulsionamento irregular, desinformação, campanhas orquestradas e manipulação algorítmica. É um Congresso moldado pelo caos digital, que funciona melhor quanto mais desinformado estiver o eleitorado e quanto mais enfraquecido estiver o Estado. E esse mesmo Congresso — presidido por Motta e Alcolumbre — jamais será o instrumento de regulação das big techs ou de contenção do golpismo digital. Esperar disso é como pedir ao lobo que cuide do galinheiro.

O projeto de regulação das plataformas, a taxação dos super-ricos, o fortalecimento dos BRICS, a retomada da indústria nacional, a defesa de uma internet pública e soberana — tudo isso passa por fora dos interesses dessa casta política. Alcolumbre e Motta não vão se mover porque sabem que qualquer passo em direção a um Brasil soberano significa o fim do modelo de poder que os sustenta. Não farão isso. E é hora de dizermos isso claramente.

A sociedade civil, os movimentos populares, os comunicadores independentes, os pesquisadores, os educadores, as periferias e a juventude precisam compreender que a luta pela soberania não será vencida com discursos moderados nem com acenos ao centro fisiológico. Essa luta exige nomear os sabotadores, romper com os falsos pactos e reconstruir as bases políticas do país a partir de baixo — com radicalidade democrática e lucidez estratégica.

O tempo da conciliação acabou. Agora é tempo de escolher de que lado se está. E Motta e Alcolumbre, pelo que demonstraram, não estão do lado do povo. Estão do lado dos algoritmos, do dinheiro e do silêncio cúmplice.

É hora de dizer — eles são nossos inimigos.

A fase da ambiguidade acabou. Alcolumbre e Motta não são neutros, não são hesitantes, não estão em dúvida. Eles sabem exatamente o que estão fazendo — e o que estão fazendo é trabalhar contra o povo brasileiro, contra a soberania nacional e contra a democracia. Estão do lado de Trump, do capital financeiro internacional, das big techs, das fundações estrangeiras e dos think tanks neoliberais que há anos operam para transformar o Brasil em uma colônia digital submissa e desarticulada.

Esse artigo não é uma simples crítica a uma nota covarde. É um diagnóstico estratégico de uma engrenagem muito mais profunda de sabotagem institucional, da qual Motta e Alcolumbre são peças-chave. São eles que dão o verniz de legalidade e moderação a um projeto que atua para destruir o STF, esvaziar o Executivo, impedir a regulação das plataformas, minar os BRICS e manter o Brasil preso à lógica de subordinação econômica, informacional e tecnológica.

Eles não erraram — eles estão cumprindo função. E por isso devem ser tratados como tal: inimigos políticos e históricos do projeto soberanista, democrático e popular. Não há como disputar o futuro do Brasil confiando em quem trabalha para entregá-lo. Não há como avançar num projeto nacional sem romper com essa elite política que vive da servidão à ordem neoliberal internacional. A ilusão do pacto institucional é, neste momento, o maior obstáculo à reconstrução do país.

A tarefa agora é explicitar isso à sociedade. Tirar o véu. Mostrar quem são os verdadeiros operadores do golpe silencioso. Nomear. Expôr. Desmascarar. E, ao mesmo tempo, reorganizar a força popular em torno de um projeto de soberania real, que não se ajoelha diante do algoritmo, que não negocia com o rentismo, que não teme o enfrentamento. O Brasil precisa de coragem — não de notas diplomáticas.

Alcolumbre e Motta não nos representam. E não nos enganam mais. O tempo da conivência acabou. Agora é tempo de luta. De confronto de ideias. De construção de outro país.

E para isso, precisamos começar dizendo em alto e bom som: esses homens são nossos inimigos. E nosso projeto é derrotá-los — política, moral e historicamente.

 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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