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No Dia da Independência, Cristina Fernández adverte sobre perda de soberania e denuncia modelo excludente de Milei

Ex-presidenta defende reconstrução da dignidade nacional e alerta para dívida impagável, dependência externa e destruição da classe média

Cristina Fernandez de Kirchner (Foto: AGUSTIN MARCARIAN/REUTERS)
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247 - A ex -presidente argentina Cristina Fernández , por ocasião do Dia da Independência da Argentina, disse que o que o país vive hoje não é um simples ajuste, mas um verdadeiro problema estrutural. Ela fez duras críticas ao modelo econômico implementado por Javier Milei e alertou para o risco real de o país perder sua soberania. A fala da ex-presidenta foi repercutida amplamente pela rede Telesur, que transmitiu o ato político e social em defesa da independência argentina.

“Não vivemos uma simples crise, nem um mero ajuste. O que está ocorrendo na Argentina é um problema estrutural profundo”, declarou Cristina. A líder peronista afirmou que desde 1956, quando o presidente Juan Domingo Perón foi deposto e o país foi atrelado ao Fundo Monetário Internacional, os argentinos não enfrentavam tamanho nível de submissão. “Desde então, nunca mais havíamos atingido esse grau de dependência”, pontuou.

Com forte apelo popular e político, Cristina advertiu que, sob Milei, o país caminha para se transformar em uma colônia financeira. “A pergunta inevitável que temos que nos fazer, como argentinos, é: somos verdadeiramente livres ou independentes? Ou estamos mais uma vez implementando políticas ditadas de fora, aceitando acriticamente condições do FMI ou de outros países tão prejudiciais ao nosso povo?”

A ex-presidenta destacou ainda que a conta da submissão virá mais pesada nos próximos anos: “Nem um único peso de capital foi pago ao Fundo até agora. A partir de 2027, a Argentina tem um muro intransponível de vencimentos, que exigirá pagamentos em dinheiro vivo. Se nós, sinceramente, não pensarmos como resolver essa questão, estamos em apuros, estamos em apuros”, alertou, conclamando todas as correntes políticas a enfrentarem o drama da dívida pública.

Segundo Cristina, Milei opera um projeto para destruir a classe média argentina e consolidar um país para apenas 30% da população: “Enquanto isso, o resto está condenado a viver sem mobilidade social, sem dignidade, sem futuro”. Ela denunciou que 90% da população está endividada, e que 12% das famílias possuem mais de três dívidas acumuladas. O dado mais alarmante, segundo ela, é que “de cada quatro dívidas, três surgiram em 2024, o primeiro ano do governo de um economista especialista em crescimento, com ou sem dinheiro”.

As dívidas familiares abrangem desde cartões de crédito até alimentos, remédios e serviços essenciais, como luz e gás. “Este é o modelo de Milei: dívida pública, dívida das famílias e dívida privada. As empresas também já começam a fechar ou a suspender atividades. Voltamos a sentir o medo dos anos 1990: medo de perder o emprego, de não poder mais alimentar os filhos, de aceitar qualquer condição imposta pelo empregador, mesmo sem uma reforma legal”, denunciou.

Cristina Fernández não poupou críticas à desumanização promovida pelo atual governo e fez um apelo à reflexão coletiva: “Em sociedades fragmentadas, desiguais, empobrecidas e resignadas, não há independência. Isso é liberdade? Este nunca foi o projeto da Argentina”, afirmou.

Em mensagem clara aos movimentos populares, sindicalistas, jovens e famílias que foram às ruas celebrar a data histórica, a ex-presidenta afirmou: “Pensemos na Argentina que queremos em 2027, 2031 e 2035. Como chegaremos lá sem deixar ninguém para trás?”

Defesa e resistência

As palavras de Cristina surgem em um momento em que o governo de Javier Milei enfrenta forte desgaste político, com queda de popularidade, crescimento da pobreza, retração econômica e denúncias de desmonte do Estado. Ainda assim, setores da elite midiática e do mercado financeiro atacam a ex-presidenta, acusando-a de "populismo", "clientelismo" e "herança maldita".

No entanto, esses ataques ignoram o histórico de conquistas sociais de seus governos (2007–2015), quando a Argentina cresceu, reduziu a pobreza, ampliou direitos e se libertou do FMI por mais de uma década.

Seus algozes preferem esquecer que, sob sua liderança, o país promoveu a reindustrialização, elevou salários, fortaleceu a educação e impulsionou o consumo interno como motor de crescimento. Tentam agora apagar essa trajetória para justificar a brutalidade das políticas de Milei, que trata a economia como uma planilha e ignora as necessidades humanas mais básicas.

Criticar Cristina tornou-se um recurso da oligarquia e da mídia concentrada para blindar um governo que opera a destruição nacional. Mas as ruas falam mais alto. Neste 9 de julho, a voz de Cristina ecoou a de milhares de argentinos que não se resignam à fome, à exclusão e à servidão financeira.

Porque, como lembrou a própria ex-presidenta, “é tempo de reconstruir a independência. E para isso, precisamos de um projeto de país para todos, e não apenas para os 30% mais ricos”.

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