Milei pressiona por abertura comercial no Mercosul e ameaça: "faremos juntos ou sozinhos"
Presidente argentino cobra liberdade econômica no bloco e diz que Mercosul não pode ser “cortina de ferro” para os países-membros
247 - Durante seu discurso de encerramento da presidência pro tempore da Argentina no Mercosul, o presidente Javier Milei deixou clara a prioridade de sua gestão: abrir novos mercados para as exportações argentinas. Milei defendeu um bloco mais flexível e com menos barreiras internas, classificando o atual modelo como restritivo: “não pode continuar sendo uma cortina de ferro para seus membros”, disse Milei nesta quinta-feira (3), durante reunião de Cúpula do bloco, realizada em Buenos Aires.
A celebração pelas negociações concluídas com a União Europeia e com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) — que reúne Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein — foi um dos pontos centrais da fala. O argentino também pediu celeridade nas conversas com outros parceiros, como Israel, Emirados Árabes, El Salvador e Panamá. Milei destacou que seu país não pode mais esperar por consenso no bloco. “A Argentina não pode esperar, precisamos de mais liberdade de forma urgente. Deixamos para trás décadas de estagnação. Os sócios do Mercosul devem decidir se querem ajudar no caminho que iniciamos. O faremos juntos ou sozinhos”, afirmou.
O presidente argentino também cobrou que o Mercosul deixe de ser um instrumento de proteção e se transforme em ponte para o comércio global. “Temos de deixar de pensar o Mercosul como escudo que nos protege do mundo, e sim como uma lança que nos permita entrar em mercados globais”. “Não podemos deixar que diferenças em questões acessórias nos dividam”, ressaltou em outro ponto do discurso. Apesar do tom crítico predominante, Milei agradeceu o apoio dos países do bloco à histórica reivindicação argentina pela soberania das Ilhas Malvinas.
Ao longo dos seis meses sob a presidência pro tempore da Argentina, Milei destacou avanços na ampliação das exceções da Tarifa Externa Comum (TEC) e a conclusão do acordo com a EFTA. No entanto, sinalizou que espera do Brasil, que assumiu agora o comando do bloco, o compromisso com a continuidade dessa agenda. “Esperamos que o Brasil dê continuidade ao que nós começamos”, afirmou.
Milei tentou incluir na declaração final do Mercosul uma menção crítica à situação da Venezuela, mas o texto proposto foi considerado excessivamente duro por outros países, inclusive pelo Brasil, que condicionava qualquer menção à inclusão de críticas também às sanções internacionais impostas ao país. Sem acordo, nenhuma declaração conjunta foi emitida sobre o tema. Ainda assim, Milei usou seu espaço para se posicionar sobre o país sul-americano. “Condenamos os casos de detenções ilegais na Venezuela, onde as pessoas são presas e seus direitos são violados. Voltamos a reclamar a liberação do policial militar Nahuel Gallo”.
O presidente também propôs a criação de uma agência regional de combate ao crime organizado no âmbito do Mercosul, mencionando o avanço de facções como o Comando Vermelho. Em seu estilo característico, Milei encerrou o discurso com uma referência religiosa. “Que as forças dos céus nos acompanhem”, evocando o Livro dos Macabeus, passagem bíblica frequentemente citada por ele: “A vitória na batalha não depende do número de soldados, mas das forças que vêm do céu”.
Antes do encontro, os líderes dos países-membros do Mercosul posaram para uma foto no Palácio San Martín, sede da chancelaria argentina. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Javier Milei trocaram apenas um cumprimento formal, sem diálogos mais aprofundados. A visita de Lula à ex-presidente argentina Cristina Kirchner não foi mencionada no evento.
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