Jerônimo Rodrigues, Lula e Janja

Pobres x ricos: a força da luta por justiça social empolga as redes digitais em apoio a Lula

O fato de que as redes não têm mais senhores fascistas reinando absolutos constitui a maior novidade da conjuntura

Quando era evidente o gozo das forças neoliberais, clientelistas e de extrema-direita contrárias ao governo Lula, com a derrota na Câmara do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) decretado pelo Executivo, eis que a situação difícil permitiu a revelação de um caminho, uma verdadeira clareira, que desatou enormes energias políticas, num arco que mostra novas perspectivas para o presente da governabilidade e o futuro da intenção de reeleição do presidente Lula a um quarto mandato.

Na verdade, o que aconteceu na semana que passou, com a intensa mobilização no mundo virtual em favor da taxação dos super-ricos, foi uma antecipação. Tocada pela rejeição ao IOF, a opinião pública consagrou a união do passado ao futuro. No centro estão os anseios de mais igualdade social, que é a marca dos mandatos do presidente Lula e da ex-presidenta Dilma Rousseff.

Pela primeira vez, porém, essa mensagem espalhou-se como um rastilho avassalador na principal arena da disputa política, o mundo virtual. Apareceu em vídeos ácidos e bem-humorados de crítica ao voto do Parlamento no caso do IOF. Evidentemente, a maioria imensa dos parlamentares optara por atacar a Constituição para se render à ordem iníqua das oligarquias.

Ato contínuo, multiplicaram-se às centenas as peças feitas com inteligência artificial e aos milhões os compartilhamentos digitais. Quem não compartilhava passou a fazê-lo. A liderança desse movimento de massas surgiu de uma militância informal espontaneamente unida pela justeza da ideia do governo e que aguarda exame do Legislativo: taxar os super-ricos isentos e isentar os pobres e a classe média. O governo logo engrossou a mobilização das redes.

Editoriais, escribas e comentaristas da mídia conservadora apressaram-se a deixar de lado velhos ataques aos "políticos" para tomar o lado do maior alvo da crítica nas redes, o presidente da Câmara, Hugo Motta, contra Lula e o Planalto. Motta traiu acordo prévio com o governo e comandou a rejeição ao IOF. Cinicamente, acusavam Lula e o PT de estimular um clima de "ricos contra pobres", como se não fosse a falange conservadora do Congresso que tivesse fomentado a divisão, mesmo que para isso fosse necessário afrontar a Constituição.

Os super-ricos não pagam nada. Já aqueles que trabalham são descontados em 27,5% dos seus ganhos. Os trabalhadores são sacrificados pelo injusto sistema tributário. Os impostos premiam o ócio, duplicando assim a lógica do sistema que expropria os trabalhadores do valor do que produzem.

A isenção aos super-ricos está no âmago do mecanismo de produção de injustiças contra os eternamente esquecidos. Estes são os que de fato suam a camisa em meio a um oceano de esforços para escapar, pelo trabalho, da condição desigual que herdaram.

A apropriação exercida pelo sistema em favor dos ricos tem amplo apoio da maioria conservadora do Congresso e da mídia corporativa.

A extrema-direita conservadora tinha, como se sabia, amplo predomínio do território virtual. Agora, essa realidade mudou. Memes e vídeos contra o arrocho aos pobres tomaram conta do ambiente.

O fato de que as redes não têm mais senhores fascistas reinando absolutos e manipulando, sem competição, feudos digitais de audiência cativa constitui a maior novidade da conjuntura.

Essa mudança coincide, aliás, com o recuo do bolsonarismo nas ruas, evidenciado pelo fracasso da recente manifestação pela anistia em São Paulo.

A reação popular nas redes à votação do IOF antecipa, é óbvio, outras propostas à espera de exame, todas apoiadas pelo governo federal como parte de seu programa de combate à desigualdade. Além da própria taxação dos super-ricos, aguardam exame a reforma tributária, o orçamento com garantia da manutenção das vinculações para saúde e educação, o controle das emendas parlamentares e o fim das desonerações fiscais que garroteiam a arrecadação e a gestão pública.

Desde o início, Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tomaram medidas em favor de mais justiça fiscal e tributária. O próprio Haddad, aliás, defende levar o tema mais adiante, ao propor uma taxação mundial dos super-ricos em 2% de seus ganhos.

É de esperar que esse espírito dê sentido e contamine a cúpula dos Brics nesta semana no Rio. Não há espaço melhor para essa ideia do que o organismo mais representativo das aspirações do Sul Global, a região do mundo mais necessitada de uma nova ordem mundial mais justa.

Há que aproveitar a presença de Dilma à frente do Novo Banco de Desenvolvimento para estimular um novo grande salto adiante na criação de uma comunidade de ações compartilhadas para um futuro de crescimento com justiça social.

Redação Brasil 247 avatar
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